Este texto contém uma classificação para direção espiritual proposta por D. Chautard em seu livro A alma de todo o apostolado, dividida em nove pontos para alcançar a santidade. São descrições úteis para nossa caminhada cristã. Confira!
[…] Cada alma é um mundo à parte, com os seus matizes próprios. Entretanto, os cristãos podem ser classificados em vários grupos. Por nos parecer útil, sobretudo para os diretores espirituais, damos a seguir esta classificação, adotando como pedra de toque, de um lado, o pecado ou a imperfeição e, de outro, a oração.
1. Empedernimento
Pecado mortal. ― Estagnação neste pecado, por ignorância, ou conscientemente. Abafamento ou ausência de remorsos.
Oração. ― Supressão voluntária de qualquer recurso a Deus.
2. Verniz cristão
Pecado mortal. ― Considerado como mal irrelevante e facilmente perdoado; a alma comete-o, sem resistir às ocasiões e tentações. Confissões quase sem contrição.
Oração. ― Maquinal, distraída e ditada, frequentemente, por interesses temporais. Concentrações raras e superficiais.
3. Piedade medíocre
Pecado mortal. ― Fracamente combatido. Fuga pouco freqüente das ocasiões, mas arrependimento sério e confissões sinceras.
Pecado venial. ― Pacto com este pecado, considerado como mal insignificante; logo, tibieza da vontade. Nada faz para o descobrir, prevenir e arrancar.
Oração. ― De longe a longe, bem feita. Veleidades passageiras de fervor.
4. Piedade intermitente
Pecado mortal. ― Lealmente combatido, fuga habitual das ocasiões. Profundo arrependimento. Penitências para reparar.
Pecado venial. ― Às vezes, deliberado. Combate fraco. Pesar superficial. Exame particular sem objeto preciso, sem espírito de continuidade.
Oração. ― Resolução insuficiente de fidelidade à meditação, que é abandonada se aparece a aridez ou uma ocupação importante.
5. Piedade perseverante
Pecado mortal. ― Nunca. Ou pecado repentino, e muitas vezes duvidoso, mas acompanhado sempre de ardente compunção e penitência.
Pecado venial. ― Vigilância para evitá-lo e combatê-lo. Raras vezes deliberado. Vivamente sentido, mas pouco reparado. Fidelidade ao exame particular, visando apenas as fugas dos pecados veniais.
Imperfeições. ― A alma evita descobri-las para não ter de as combater, ou arranja desculpas com facilidade. A renúncia às imperfeições é admirada, desejada até, mas pouco praticada.
Orações. ― Fidelidade constante à meditação, muitas vezes afetiva. Alternância de consolações e aridezes suportadas com mágoa.
6. Fervor
Pecado venial. ― Nunca deliberado. Às vezes, de surpresa ou sem advertência. Vivamente sentido e seriamente reparado.
Imperfeições. ― Reprovadas, vigiadas e combatidas com energia para agradar a Deus. Às vezes, talvez, aceites, mas logo rejeitadas. Freqüentes atos de renúncia. Exame particular visando o aperfeiçoamento de uma virtude.
Oração. ― Oração mental que se prolonga com gosto. Meditação, sobretudo afetiva e de simplicidade. Alternâncias entre vivas consolações e provações cruciantes.
7. Perfeição relativa
Imperfeições. ― Prevenidas com toda a energia e muito amor. Sobrevêm apenas com semi-advertência.
Oração. ― Vida habitual de oração, mesmo nas ocupações exteriores. Sede de renúncia, de aniquilamento, de desapego, de amor divino. Fome da Eucaristia e desejo ardente do Céu. Graças de oração infusa, em vários graus. Muitas vezes, purificações passivas.
8. Heroicidade
Imperfeições. ― Só no primeiro movimento.
Oração. ― Dons sobrenaturais de contemplação, às vezes acompanhados de fenômenos extraordinários. Purificações passivas acentuadas. Humildade levada até ao esquecimento de si mesmo. Preferência dada aos padecimentos sobre as alegrias.
9. Santidade consumada
Imperfeições. ― Apenas aparentes.
Oração. ― Quase sempre, união transformante. Matrimônio espiritual ou místico. Purificações de amor. Sede ardente de sofrimentos e humilhações.
São muito poucas as almas de escol que atingem os três últimos estados. O pecado venial nelas é muito raro. Por isso, compreende-se que os sacerdotes aguardem a ocasião de ter de dar direção espiritual a pessoas assim para, só então, estudarem o que os melhores autores indicam para a direção prudente e segura.
Mas como desculpar o confessor que, sem zelo para aprender e aplicar o que se refere aos quatro graus (piedade medíocre, piedade intermitente, piedade constante e fervor) deixe as almas estagnadas na tibieza, ou num grau muito inferior àquele a que Deus as destina?
[…]
A aplicação da ciência e o zelo apostólico recebem, certamente, as bênçãos de Deus. Mas estes dois fatores adquirem força sobre-humana, quando o sacerdote que delas lança mão procura, verdadeiramente, a santidade. Que transformação se verificaria se, em cada paróquia, em cada comunidade ou agrupamento católico, houvesse verdadeiros diretores de almas!
Quem se dê ao trabalho de comparar as obras, conforme os seus resultados, há de, forçosamente, chegar à seguinte conclusão: onde existir autêntica direção espiritual, não haverá necessidade das famosas muletas para que a obra tenha êxito. O uso de muletas poderá, talvez, disfarçar a falta de direção espiritual numa obra; nunca logrará, porém, atenuar a sua necessidade. Quanto mais zelo tiverem os sacerdotes em se aperfeiçoarem na arte da direção espiritual, tanto mais se atenuará aos seus olhos a necessidade das muletas – úteis a princípio para entrar em contato com os fiéis, atraí-los, agrupá-los, interessá-los e mantê-los sob a influência da Igreja – e só se darão por plenamente satisfeitos quando as almas se unirem plenamente a Cristo.
CHAUTARD, J. B. A alma de todo o apostolado. Porto: Civilização, 2001, p.118-121, 122-123.
Maravilha!