Festa da Imaculada Conceição (08 de Dezembro)

“Conveio sumamente às três Pessoas divinas preservar Maria da culpa original: ao Pai, por ser ela sua Filha primogênita; ao Filho, porque queria incarnar no seio puríssimo de Maria; ao Espírito Santo, porque a tinha escolhido para sua castíssima Esposa.” Veja o que mais Santo Afonso fala sobre a Imaculada Conceição de Maria Santíssima!

A Imaculada Conceição - Bartolomé Esteban Murillo
“A Imaculada Conceição” – Bartolomé Esteban Murillo.

Tota pulchra es, amica mea, et macula non est in te – «Tu és toda formosa, amiga minha, e em ti não há mácula» (Cant. 4, 7)

Sumário: Conveio sumamente às três Pessoas divinas preservar Maria da culpa original. Conveio ao Pai, por ser ela sua Filha primogênita. Conveio ao Filho, porque queria incarnar no seio puríssimo de Maria. Conveio ao Espírito Santo, porque a tinha escolhido para sua castíssima Esposa. Façamos um ato de viva fé em tão singular privilégio de Maria, e rendamos graças à Santíssima Trindade, por haver honrado a tal ponto a nossa Mãe. Regozijemo-nos também com a Menina imaculada, e ponhamos nela toda a nossa confiança.

I. Conveio sumamente às três Pessoas divinas preservar Maria da culpa original. Conveio ao Pai, por ser Maria sua Filha primogênita. Como Jesus foi o primogênito Deus: Primogenitus omnis creaturae (Col. 1, 15), assim Maria, destinada a ser a Mãe de Jesus, foi sempre considerada como primogênita de Deus por adoção, e por isso Deus a possuiu sempre pela sua graça: Dominus possedit me in initio viarum suarum (Prov. 8, 22) – «O Senhor me possuiu no princípio dos seus caminhos». Para a honra do Filho conveio portanto, que o Pai preservasse a Mãe de toda a mácula do pecado.

Conveio ainda, porque Deus destinou esta sua Filha para esmagar a cabeça da serpente infernal, que seduzira o homem, conforme o que se lê: Ipsa conteret caput tuum (Gen. 3, 15) – «Ela te esmagará a cabeça». Como poderia, pois, permitir que fosse Maria primeiro escrava do demônio? – Mais: Maria foi destinada para advogada dos pecadores, e daí conveio que Deus a preservasse da culpa, afim de que não parecesse cúmplice do mesmo delito dos homens, pelos quais deveria interceder.

Conveio que o Filho tivesse uma Mãe imaculada. Ele mesmo a escolheu por mãe. Não se pode crer que um filho, podendo ter por mãe uma rainha, a quisesse escrava. Como então imaginar que o Verbo Eterno, podendo ter uma Mãe imaculada e sempre amiga de Deus, a quisesse manchada e algum tempo inimiga de Deus? – Ainda mais, diz Santo Agostinho: Caro Christi caro est Mariae – «A carne de Cristo é a carne de Maria». Sim, o Filho de Deus teria tido horror de se encarnar no seio de uma Santa Inês, de uma Santa Gertrudes, de uma Santa Teresa, pois estas virgens santas, antes do batismo estiveram manchadas pelo pecado, de modo que o demônio teria podido lançar-lhe ao rosto que possuía a mesma carne, que já algum tempo lhe estivera sujeita. Mas Jesus não teve horror de encarnar-se no seio de Maria (Non horruisti virginis uterum), porque Maria foi sempre pura e imaculada. – Acrescenta Santo Tomás que Maria foi preservada de toda a culpa atual, posto que venial, porque sem isso não teria sido digna Mãe de Deus. Ora, quanto menos digna teria sido se tivera sido manchada pelo pecado original, que torna a alma odiosa aos olhos de Deus?

II. Conveio ao Espírito Santo que a sua Esposa predileta ficasse imaculada. Sendo decretada a redenção dos homens, caídos no pecado, quis que esta sua Esposa fosse remida de um modo mais nobre, preservando-a de cair em pecado. Se Deus preservou da corrupção o corpo morto de Maria, quanto mais não devemos crer que preservasse a alma da Virgem, da corrupção do pecado? – Por isso o Esposo divino a chamou horto fechado e fonte selada; porque na alma bendita de Maria os inimigos nunca penetraram. Elogiou-a ainda, chamando-a toda formosa, sempre amiga e toda pura: Tota pulchra es, amica meã, et macula non est in te (Cant. 4, 7) – «És toda formosa, amiga minha, e em ti não há mancha».

Ó minha Senhora formosíssima! alegro-me de ver-vos tão querida de Deus pela vossa pureza e formosura; e dou graças a Deus por vos haver preservado de toda a culpa. Ah, minha Rainha, já que sois tão amada pelas Pessoas da Santíssima Trindade, não recuseis lançar um olhar sobre a minha alma tão manchada pelos pecados, e obter-me de Deus o perdão e a salvação eterna. Guardai-me e mudai-me. Com a vossa doçura atraístes tantos corações ao vosso amor, atraí também o meu coração, afim de que de hoje em diante não ame senão a Deus e a vós. Sabeis que em vós tenho posto todas as minhas esperanças. Minha amadíssima Mãe, não me desampareis. Assisti-me sempre com a vossa intercessão, primeiro em minha vida e depois especialmente na minha morte. † «Ó Maria, vós que entrastes no mundo sem mancha, alcançai-me de Deus que possa deixá-lo sem culpa»[1]. Fazei com que eu morra invocando-vos e amando-vos, afim de vos ir amar para sempre no paraíso.

«Ó Deus, que pela Conceição imaculada da Virgem Maria preparastes a vosso Filho digna morada, concedei-me por sua intercessão que, assim como, pela previsão da morte desse vosso Filho, a preservastes de toda a mancha de pecado, eu possa chegar a Vós com o coração puro»[2]. Fazei-o pelo amor do mesmo Jesus Cristo.


[1] Indulgência de 100 dias.

[2] Or. festi.


Santo Afonso Maria de Ligório. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo Primeiro: Desde o Domingo do Advento até a Semana Santa inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 431-434.

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