Maria Santíssima conduz os seus servos ao paraíso

“Quem é verdadeiramente servo de Maria, está certo de que está escrito no livro da vida e se salvará; porque de todos aqueles que perseveraram na sua devoção a esta bem-aventurada Mãe, ninguém se perdeu.” Veja o que mais Santo Afonso fala nesta belíssima meditação!

Qui me invenerit, inveniet vitam, et hauriet salutem a Domino  — «Aquele que me achar, achará a vida, e haverá do Senhor a salvação» (Prov 8, 35).

Sumário. De que serve inquietarmo-nos com as sentenças das escolas sobre a predestinação para a glória? Quem é verdadeiramente servo de Maria, está certo de que está escrito no livro da vida e se salvará; porque de todos aqueles que perseveraram na sua devoção a esta bem-aventurada Mãe, ninguém se perdeu. Só se condena aquele que não recorre a ela ou deixa de ser seu servo. Procuremos, portanto, entrar sempre mais e permanecer nesta arca da salvação; e cada vez que nos for possível, procuremos, por palavras e exemplos, fazer que outros também ali entrem.

I. Oh! que belo sinal de predestinação têm os servos de Maria! A santa Igreja aplica a esta bem-aventurada Mãe as palavras da Sabedoria divina e lhe faz dizer: In omnibus requiem quaesivi et in haereditate Domini morabor (Eclo 24, 11) — «Em toda parte busquei repouso e morarei na herança do Senhor». A Santíssima Virgem, pelo amor que tem para com os homens, procura fazer que em todos reine a sua devoção. Muitos ou não a recebem, ou não a conservam; porém, bem-aventurado aquele que a recebe e a conserva, porque esta devoção habita em todos aqueles que são a herança do Senhor, isto é, que irão ao céu louvá-lo eternamente.

Qui audit me, non confundetur (Eclo 24, 30) — «Aquele que me ouve, não será confundido». De todos aqueles que recorreram a esta Rainha de misericórdia, nenhum ficou confundido. A experiência de todos os dias demonstra que aqueles que operam por ela, que a honram, e especialmente aqueles que com palavras e exemplos procuram que outros também a amem, nunca cairão em pecado e viverão eternamente. Numa palavra, diz Maria Santíssima: Aquele que me achar, achará a vida, e haverá do Senhor a salvação. Ao contrário, aquele que de mim se afastar, achará infalivelmente a morte; porque ficará privado daqueles socorros que não se dispensam aos homens senão pelo meu intermédio. — É assim que a santa Igreja, de acordo com todos os Doutores, faz a divina Mãe falar, para conforto dos seus servos. — De que serve, pois, inquietarmo-nos com as sentenças das Escolas, sobre se a predestinação para a glória é anterior ou posterior à previsão dos merecimentos? se estamos ou não escritos no livro da vida? Se formos verdadeiros servos de Maria, e alcançarmos a sua proteção, seguramente nele havemos de ser inscritos e nos salvaremos.

II. Santa Maria Madalena de Pazzi viu no meio do mar uma pequena nau, em que estavam embarcados todos os devotos de Maria, e ela, fazendo ofício de piloto, seguramente os conduzia ao porto do céu. Procuremos, pois, entrar nesta nau bem-aventurada da proteção de Maria, sejamos devotos verdadeiros da Virgem, pois assim estaremos seguros de alcançar o reino do céu.

Não nos contentemos com amar, só por nós, esta Senhora amabilíssima; mas sempre que nos for possível, em público ou em particular, esforcemo-nos para que ela seja também amada dos outros. Fazendo isso, exerceremos um apostolado mui frutuoso, pois que todos aqueles que por nosso intermédio abraçarem a devoção para com Maria Santíssima, serão depois os nossos eternos companheiros no céu.

Ó Rainha do paraíso, que assentada acima de todos os coros angélicos, ocupais o primeiro lugar junto do trono de Deus! do fundo deste vale de lágrimas, eu, miserável pecador, vos saúdo, e peço vos digneis volver para mim vossos olhos cheios de misericórdia. Vede, ó Maria, em que perigos me acho e acharei enquanto viver nesta terra, de perder minha alma, o paraíso e meu Deus. Em vós, ó minha Rainha, hei posto todas as minhas esperanças. Amo-vos, e suspiro pelo momento de vos ir ver e louvar no paraíso. Ah, Maria! quando chegará o dia em que me verei já salvo aos vossos pés? Quando beijarei essas mãos que me dispensaram tantas graças?

É verdade, ó minha Mãe, que muito ingrato vos tenho sido durante a minha vida; mas se chego ao paraíso, lá vos amarei a cada instante durante toda a eternidade, e repararei a minha ingratidão passada por bênçãos e ações de graças sem fim. A Deus agradeço por me dar esta confiança no sangue de Jesus Cristo e na vossa poderosa intercessão. Assim esperaram os vossos verdadeiros servos e nenhum foi frustrado na sua esperança. Também eu não o serei. — Ó Maria, suplicai a Jesus, vosso divino Filho, — assim como eu também o faço pelos merecimentos da sua Paixão, — que confirme e aumente sempre mais em mim estas esperanças. Amém. (*I 123)


Santo Afonso Maria de Ligório. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo Terceiro: desde a duodécima semana depois de Pentecostes até ao fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p.331-334.