O Santo Rosário: O que é, origens e demais explicações

Neste post você vai encontrar, em forma de perguntas e respostas, o que é o santo Rosário, suas origens e demais explicações, de acordo com a doutrina católica, sobre este instrumento tão maravilhoso de salvação, dado a nós, como presente do Céu, pela própria Santíssima Virgem!

1) Que é o Rosário?

O Rosário é uma série de orações, acompanhadas de meditações em honra da Santíssima Virgem. Chama-se Rosário porque esta devoção é como uma coroa de rosas que se oferece a Maria. A oração principal do Rosário é a Ave Maria.

2) A quem devemos a instituição do Rosário?

Na sua forma atual, o Rosário tem por autor São Domingos[1], fundador da Ordem dos Padres Pregadores ou Dominicanos. Segundo vários documentos pontifícios, aquele santo teve para isso uma revelação particular de Maria, acerca do ano de 1206.

[1] O uso de honrar a Maria rezando repetidas vezes o Padre Nosso, a Ave Maria e o Gloria Patri, fora inaugurado no século V por Santa Brígida, Abadessa de um mosteiro de beneditinas, na Irlanda. Para facilitar tal prática, sujeitando a uma ordem invariável as orações que a compunham, Santa Brígida serviu-se de contas de diferentes tamanhos, enfiadas em forma de coroa. São Domingos, aperfeiçoando esse terço, sobre as indicações de Maria, formou o Rosário tal qual hoje existe.

No século XV, o uso do Rosário, tendo decaído pela desgraça dos tempos, Deus suscitou o B. Alain de la Roche, dominicano bretão, para restabelece-lo em todo seu brilho.

3) Em que ocasião e para que fim Maria revelou a S. Domingos a devoção do Rosário?

Foi no princípio do século XIII, quando os Albigenses[2] infestavam o meio-dia da França. Animados pelo conde de Tolosa e por grande número de nobres, esses hereges quebravam as cruzes, destruíam as igrejas, matavam os sacerdotes e revoltavam-se contra qualquer autoridade eclesiástica. Para conter essa torrente devastadora, a Igreja tratou de converter à fé essas almas transviadas e mandou-lhes missionários, entre outros Dom Diego, bispo de Osma, na Velha Castella, e seu arcediago, Domingos de Gusmão, tão célebre depois sob o nome de São Domingos.

Esses homens apostólicos puseram mãos à obra, com ardor; mas seu zelo teve pouco êxito. Aflitíssimo pela esterilidade de seus esforços, Domingos dirige-se para a Mãe de Deus que possui o poder de destruir as heresias; suplica, conjura até com lágrimas para que esta boa Mãe o auxilie e lhe inspire o meio de vencer a obstinação desses fanáticos. Maria ouve a oração de seu servo e lhe aparece[3], consola-o e lhe diz: “Meu filho Domingos, aprenda isto: o meio empregado pela Santíssima Trindade para reformar o mundo foi a Saudação Angélica; portanto, se o senhor quiser converter esses corações empedernidos, pregue-a segundo o modo que vou ensinar-lhe”. No mesmo tempo, indica-lhe a organização do Rosário, composto de 3 Terços ou de 15 dezenas, a cada qual corresponde um mistério de nossa fé. Com esta poderosíssima arma, Domingos prega outra vez, com novo ardor: ensina a fé, propaga a devoção do Rosário e os frutos de conversão se multiplicam com prodigiosa rapidez. Os progressos dessa devoção foram tais que, cinquenta anos depois da aparição de Maria, milhares de hereges tinham voltado ao seio da Igreja e milhares de pecadores tinham abraçado a penitência. Durante sua vida, o próprio São Domingos converteu mais de cem mil almas, dizem os autores contemporâneos.

Tal é a origem da preciosa devoção do Rosário, baseada em tantos testemunhos, autorizada por tantos milagres, honrada pela Igreja de tantos privilégios e continuadamente aprovada pelo céu com o seu número de graças que Deus gosta de espalhar nos que a praticam.

[2] Os Albigenses foram assim chamados, porque eram numerosíssimos nesta parte da província do Languedoc, chamada Albigense. Estes homens formavam uma seita na qual se praticavam monstruosidades. Admitiam dois princípios, o do bem e o do mal, não acreditavam nas Escrituras, nem no batismo das crianças, nem no matrimônio; não queriam nem templos, nem bispos, nem padres e negavam a verdade do sacrifício da Missa. Seus costumes eram corruptos e sua ignorância extrema.

[3] A tradição constante da diocese de Carcassonne indica a aldeia de Prouille, perto de Castelnaudary, como lugar da célebre aparição.

4) De que orações se compõe o Rosário?

Compõe-se do Símbolo dos Apóstolos, seguido do Padre-Nosso, de três Ave-Marias e de uma Gloria Patri, e de quinze dezenas de Ave-Marias precedidas cada uma de uma Padre Nosso e terminadas por uma Gloria Patri.

O que forma o corpo, a Coroa propriamente dita do Rosário, são as quinze dezenas de Ave-Marias, cujas palavras são como raios celestes que nos indicam o que devemos fazer e pedir; são outras tantas grinaldas perfumadas, que desfolhamos sob os olhos de nossa divina Mãe.

Bem lhe convém este nome de Rosário ou Rosal, isto é, abundância de Rosas; porque a rosa é o símbolo da caridade pela cor, do exemplo pelo aroma, da mortificação pelos espinhos pregados nos galhos da haste; assim também esta oração das Ave Marias deve ser feita com o fervor da caridade, com a devoção do exemplo, e com o ânimo contrito das faltas cometidas.

O Credo, as três Aves e a Gloria Patri são apenas um prelúdio, destinado a excitar em nós as disposições necessárias a toda oração bem feita: a fé, a confiança em Deus e a confiança em Maria, tão amada da Santíssima Trindade.

As 150 Ave Marias do Rosário lembram os 150 salmos de Davi; por isso, se chamou primeiro esta oração “Saltério de Maria”; mas há mais de dois séculos que o nome de Rosário prevaleceu em todo o mundo.

5) Donde provém a excelência do Rosário?

Provém principalmente:

Da sua origem: Vimos que foi Maria mesma que o revelou a São Domingos;

Das orações que o compõem, a saber: o Símbolo dos Apóstolos, admirável resumo das nossas crenças; o Padre Nosso e a Ave Maria, que são as orações mais autênticas da Igreja; as mais santas em si mesmas, as mais agradáveis a Jesus e a Maria; a Gloria Patri, ato de fé, preito de adoração e amor tributado ao sublime mistério da Santíssima Trindade;

Da autoridade da Igreja, que autorizou esta prática por muitas indulgências; e até da autoridade de Deus, que a confirmou por um sem número de prodígios.

6) Em que devemos ocupar o espírito ao recitar estas orações?

Na meditação de quinze mistérios, os quais têm por objeto Jesus Cristo e a Santíssima Virgem[4].

[4] Não se podem lucrar as indulgências, se, rezando o Rosário, se meditasse em outras grandes verdades, por ex. os novíssimos do homem (P. BERINGER, As Indulgências, I. p. 378).

7) É necessária esta meditação?

Sim, é necessária para se lucrarem as indulgências; mas é fácil e pode limitar-se à lembrança piedosa dos mistérios.

Satisfaz-se a esta obrigação dizendo antes de cada dezena, o enunciado do mistério correspondente, por uma fórmula qualquer, por mais curta que seja[5].

[5] Congreg. das Indulg., 28 de janeiro de 1842.

8) É útil esta meditação?

Sem dúvida, pois que, ao mesmo tempo que nos lembra as grandes verdades da religião e os principais mistérios da vida de Jesus e de Maria Santíssima, indica-nos as virtudes que devemos praticar para vivermos como bons cristãos e merecermos a morte dos predestinados.

9) Quais são estes mistérios?

Há cinco mistérios gozosos, cinco dolorosos e cinco gloriosos.

10) Quais são os mistérios gozosos?

São os mistérios festivos, em que o júbilo domina:

  1. A Anunciação do Anjo e a Encarnação do Verbo;
  2. A Visitação da Santíssima Virgem à sua prima Santa Isabel;
  3. O Nascimento de Jesus no presépio de Belém;
  4. A Apresentação de Jesus ao Templo e a Purificação da Santíssima Virgem;
  5. Jesus encontrado no templo no meio dos doutores, depois de três dias.

11) Quais são os “frutos” de salvação que correspondem a cada um dos mistérios gozosos?

Os frutos de salvação, isto é, as virtudes que é conveniente pedir durante a meditação desses mistérios, são respectivamente: a humildade, a caridade para com o próximo, o amor à pobreza, a obediência, a busca de Jesus.

12) Quais são os mistérios dolorosos?

  1. A agonia de Jesus, no Horto das oliveiras,
  2. A Flagelação,
  3. A Coroação de espinhos,
  4. Jesus carregando a cruz nas costas,
  5. Jesus morrendo na cruz.

13) Quais são os “frutos” a retirar-se dos mistérios dolorosos?

  1. A contrição de nossos pecados,
  2. A mortificação,
  3. O amor às humilhações,
  4.  A conformidade à vontade de Deus,
  5. A mortificação de nós mesmos e sobretudo a morte do pecado.

14) Quais são os mistérios gloriosos?

  1. A Ressurreição de Jesus Cristo,
  2. Sua Ascensão ao Céu,
  3. A Vinda do Espírito Santo sobre os Apóstolos,
  4. A Morte e a Assunção da Santíssima Virgem,
  5. Sua Coroação no céu, como Rainha dos anjos e dos homens.

15) Quais são os “frutos” a retirar-se dos mistérios gloriosos?

  1. A fé e a conversão,
  2. O desapego da terra e o desejo do céu,
  3. O amor do retiro e os dons do Espírito Santo,
  4. A união com Deus e a boa morte
  5. A confiança na proteção de Maria.

16) Que intenções podemos formar rezando o Rosário?

Na primeira parte: a conversão dos pecadores; na segunda, o socorro dos moribundos; na terceira, o alívio das almas do purgatório etc.

Podemos também, a fim de variar, ter uma intenção particular em cada dezena, como, por exemplo, a graça de corrigir-nos de tal defeito, de adquirir tal virtude, de obter a conversão de tal pecados, de socorrer a alma mais esquecida do Purgatório, de encomendar a Deus uma boa obra, de rezar por intenção do Apostolado da Oração etc.

17) Que é o Terço?

O terço é a terça parte do Rosário, isto é, uma coroa de cinco dezenas de Ave Marias, precedidas todas de um Padre Nosso e acabando por um Gloria Patri. O prelúdio do terço, como o do Rosário, compreende o Símbolo dos Apóstolos, o Padre Nosso, três Ave Marias e a Gloria Patri.

Quem não pode rezar todo o Rosário, pode rezar um terço, oração mais breve do que o Rosário, na qual meditamos sobre os principais mistérios da vida de Nosso Senhor e da Santíssima Virgem[6].

[6] As pessoas que se limitam a rezar o terço, costumam meditar sobre mistérios gozosos nas segundas e quintas-feiras; sobre os dolorosos nas terças e sextas-feiras; sobre os gloriosos nos domingos, nas quartas-feiras e sábados.

18) Há muitas espécies de terços?

Sim, além do terço da Santíssima Virgem do qual acabamos de falar e é o mais espalhado, existem muitos outros; tais são os da Imaculada Conceição, de Santa Brígida, das Sete Dores de Maria, dos Finados etc. Falaremos apenas do terço de Maria Santíssima.

19) Que é um terço indulgenciado?

É um terço bento por um sacerdote autorizado e na reza do qual estão ligados indulgências mais ou menos numerosas.

20) Um terço indulgenciado pode perder as indulgências?

Sim, e isso acontece: 1º se for vendido ainda que só pelo preço de compra, ou trocado por uma coisa qualquer; 2º se for emprestado com o fim de fazer lucrar a outrem as indulgências; 3º se for dado, quando o dono o recebeu para seu uso pessoal; 4º se perder de uma vez uma parte notável de suas contas; 5º por morte do dono.

21) Ouve-se dizer que o terço é a devoção das beatas, e da gente simplória; que pensais de tais ditos?

Julgo que as boas senhoras e as pessoas simples têm razão de preferir esta devoção por estar mais a seu alcance; mas é absolutamente falso que seja delas exclusivamente. Viram-se e ainda vêm-se pessoas eminentes em todas as classes da sociedade que se julgam felizes por rezar quotidianamente o terço e até o rosário.

22) É vantajoso trazer consigo o terço?

É um costume excelente, caríssimo aos filhos de Maria, e que pode proporcionar-nos assistência particular do céu.

23) O que é uma “confraria”?

Confraria é uma associação de fiéis, estabelecida e dirigida pela autoridade eclesiástica com um fim especial de piedade ou de caridade cristã[7]. Tais são as confrarias do Santíssimo Sacramento, do Santo Rosário etc.

Certas confrarias centrais receberam da Santa Sé, com o título de Arquiconfraria, o poder de afiliarem outras confrarias do mesmo nome e do mesmo fim, e comunicarem-lhes assim suas próprias indulgências e privilégios.

[7] P. BERINGER, As Indulgências, I, p.2.

24) Quais são as obrigações dos membros de uma confraria?

Devem honrar sua confraria pela inocência e pureza dos costumes, e observar-lhe exatamente as regras.

25) Qual é o fundador da confraria do Rosário?

A confraria do Santo Rosário foi instituída no começo do século XIII, por São Domingos[8], que quis, por este modo, assegurar, desde a origem, a perpetuidade desta devoção.

Confirmada e cumulada de favores espirituais pelos soberanos Pontífices, a confraria do Rosário é hoje uma das mais espalhadas e que mais bem fazem. Em virtude de um privilégio hereditário e de um direito especial, a direção dessa confraria foi confiada aos Revmos Padres Dominicanos; de modo que nenhuma confraria pode ser erigida sem a licença do Padre Geral da Ordem Dominicana.

[8] De acordo com os Bispos da vizinhança, S. Domingos organizou a primeira confraria do Rosário na igreja de Muret, onde a nova devoção produziu resultados verdadeiramente maravilhosos (Mensageiro do Sagrado Coração, nov. 1897).

26) Qualquer pessoa pode entrar na confraria do Rosário?

Sim, todos os fiéis de qualquer idade, sexo, ou condição, podem fazer parte dela, com a condição de se inscreverem no registro de uma confraria canonicamente[9] ereta.

[9] Canonicamente, isto é, conforme as regras da Igreja.

27) Quais são as obrigações impostas aos confrades do Rosário?

As obrigações principais são três: 1ª rezar semanalmente (em uma ou mais vezes) o Rosário inteiro, isto é, os 15 mistérios ou dezenas; 2ª servir-se de um Rosário ou terço bento por um Padre Dominicano, ou por um sacerdote autorizado pelo Padre Geral dessa ordem; 3ª meditar individualmente sobre os quinze mistérios, como foi explicado anteriormente.

28) Estas condições obrigam sob pena de pecado?

Estas condições não obriga sob pena de pecado algum, nem mortal nem venial. Nem tampouco é obrigatório rezar o rosário ou o terço de joelhos para se lucrar as indulgências.

29) Será útil e vantajoso agregar-se à confraria do Rosário?

Sim, é uma das mais sólidas e mais vantajosas devoções, por causa das orações que se rezam, dos augustos mistérios que se meditam, dos frutos preciosos de salvação que se podem retirar, e dos imensos tesouros de graças que a Igreja abriu em favor dos confrades do santo Rosário[10].

[10] Estes favores espirituais são tão numerosos que fizeram chamar o Rosário: a Rainha das devoções indulgenciadas. A lista detalhada dessas indulgências se acha no catálogo que o Revmo. Padre Geral dos Dominicanos entrega a todos os sacerdotes aos quais dá o poder de admitir os fiéis na Confraria.

30) Quais são as indulgências concedidas em benefício da confraria do Santo Rosário?

Eis as principais:

  1. a) INDULGÊNCIAS PLENÁRIAS:

1ª No dia da recepção na confraria, cumprindo as condições ordinárias (confissão, comunhão e oração segundo as intenções do Soberano Pontífice);

2ª se, contritos e confessados, comungarem naquele dia na igreja ou capela da Confraria, rezarem ao menos um terço (5 dezenas de Ave Marias) e orarem pela paz da Igreja;

3ª no primeiro domingo do mês, aos confrades, que, contritos, confessados, comungarem na igreja da confraria e orarem segundo as intenções ordinárias.

4ª naquele dia, se confessados e tendo comungado, visitarem o altar ou a capela do Rosário.;

5ª  naquele dia se tendo recebido os sacramentos, acompanharem a procissão da Confraria, rezarem segundo as intenções ordinárias;

6ª nas festas seguintes de Nossa Senhora: Natividade, Apresentação, Anunciação, Purificação, Visitação e Assunção; além disso, no dia da Páscoa, da Ascensão, do Pentecostes, de Corpo de Deus, e em duas sextas-feiras da Quaresma, à escolha de cada um, com a condição de se confessarem[11], comungarem, visitarem uma igreja ou capela pública e orarem pelo Papa;

7ª na hora da morte.

[11] Os fiéis que têm o bom costume de se confessarem semanalmente, podem lucrar todas as indulgências no intervalo das confissões, sem precisar confessar-se quotidianamente. Para as pessoas que se confessam uma ou duas vezes por mês, S. Pio X facilitou ainda mais o lucro das indulgências, não fixando para elas nenhum tempo para as confissões, contanto que estejam em estado de graça.

  1. b) INDULGÊNCIAS PARCIAIS:

Cem anos e outras tantas quarentenas, uma vez por dia, se, contritos de seus pecados, os confrades trouxerem consigo o Rosário em honra de Maria;

cinquenta anos uma vez por dia, rezando cinco dezenas na igreja da confraria; ou se estiverem fora da cidade em que está a confraria, em qualquer outra igreja ou oratório;

dez anos e dez quarentenas, se, depois de terem recebido os sacramentos, rezarem um terço nas festas da Assunção, da Natividade ou da Purificação da Santíssima Virgem; mesma indulgência no dia da Páscoa e da Anunciação;

sete anos e sete quarentenas nas festas da Anunciação, da Natividade e da Assunção, se confessados, rezarem devotamente todo o rosário;

cinco anos e cinco quarentenas para cada Ave Maria durante a reza do terço;

sessenta dias por qualquer obra pia.

Todas as indulgências do Rosário são aplicáveis aos defuntos.

31) Não há diversas confrarias do Rosário?

Não; existe apenas uma confraria do Rosário, mas sobre este tronco primitivo surgiram, no século XVIII, a associação do Rosário Perpétuo, e, no século XIX, a associação do Rosário vivo, ambas confiadas à direção da Ordem de São Domingos.

32) Que se entende por “perdão do Rosário”?

Chama-se “perdão do Rosário” uma indulgência plenária semelhante à da Porciúncula, que os confrades e os demais fiéis podem lucrar na festa do Santo Rosário, se, arrependidos e confessados, comungarem neste dia ou na véspera, em memória da grande vitória de Lepanto, visitarem devotamente a capela do Rosário e rezarem segundo as intenções do Soberano Pontífice[12].

Esta indulgência pode ser lucrada tantas vezes quantas, nas condições acima ditas, se visitar a capela ou altar do Rosário, desde as primeiras vésperas até o pôr do sol do dia da festa[13].

[12] A oração deve ser vocal; mas não há fórmula alguma prescrita. Podem-se rezar cinco Padre Nossos e cinco Ave Marias ou qualquer outra oração.

[13] As visitas que se fazem, de vem ser distintas, isto é, deve-se, cada vez, sair da igreja, ainda mesmo que por um só instante.

Em lugar da capela ou do altar do Rosário, basta visitar a estampa ou estátua de Nossa Senhora do Rosário, que se pode erigir no meio da nave ou em qualquer outro lugar da igreja da confraria (Pio IX, 25 de janeiro de 1866).

Os membros da confraria do Rosário que vivem juntos, nos Colégios e Seminários, podem, visitando sua capela própria (depois de ter satisfeito às outras prescrições), lucrar todas as indulgências que exigem uma visita à igreja da confraria (Pio IX, 8 de fevereiro de 1874).

33) Qual a origem da festa do Santo Rosário?

Pio V ficou tão persuadido de que a vitória de Lepanto era efeito da proteção particular da Santíssima Virgem, que instituiu, por esta ocasião, a festa de Nossa Senhora da Vitória, no ano de 1571. Passados dois anos, Gregório XIII, seu sucessor, mudou este título pelo de Nossa Senhora do Rosário, e transferiu esta festa para o primeiro domingo de outubro. No princípio, esta festa se celebrava só nas igrejas onde havia um altar do Rosário, mas foi estendida, em seguida, a todo o universo católico pelo papa Clemente XI (1716). Enfim, Leão XIII elevou-a a rito duplo de segunda classe e deu-lhe um ofício e uma missa própria (decreto de 11 de setembro de 1887, e de 5 de agosto de 1888).

34) Relatai a grande vitória de Lepanto.

Alentado pela tomada de Constantinopla, o poder otomano tornara-se mais formidável do que nunca. Enquanto seus exércitos ameaçavam o norte da Europa, pretendendo submete-la pelas armas e aniquilar o nome cristão, suas frotas invadiam as ilhas da Grécia e ganhavam, uns após outros, os portos avançados da civilização; a cruz recuava diante do crescente. O catolicismo e a civilização iam acabar se Maria não ostentasse, em favor de seus filhos, a força do seu braço protetor.

Das alturas do Vaticano, o grande Pontífice S. Pio V vê o perigo. Atalaia vigilante, dá o grito de alarme para o combate contra o inimigo comum; a Europa meridional ouve-lhe a voz.

Só Veneza e Filipe II, rei da Espanha, acodem ao chamado do Soberano Pontífice. S. Pio V não se perturba vendo o reduzido número de defensores que se apresentam. Cheio de confiança em Nossa Senhora do Rosário,prossegue no seu nobre projeto e, apesar da inferioridade aparente, não duvida do bom êxito da empresa. Uma esquadra de duzentas e trinta e oito velas se reúne em Messina sob o comando de Dom João de Áustria; Veneza, por sua parte, oferece cento e vinte e cinco navios.

Desde o princípio desta expedição, ordenara o Papa jejuns e preces públicas para abrandar a justiça divina. Toda a Europa estava em oração, e os fiéis corriam pressurosos a Nossa Senhora de Loreto, para implorarem o auxílio do Céu, por intercessão de Maria Santíssima. O Santo Pontífice, enviando a sua bênção ao general Dom João de Áustria, garantiu-lhe a vitória. Ordenou-lhe ao mesmo tempo que despedisse todas as praças que não pareciam animadas senão pela esperança da pilhagem, assim como todas as pessoas, cujos costumes eram desregrados, para que seus crimes não atraíssem a cólera divina sobre o exército.

A ordem do Pontífice foi religiosamente executada.

No momento de levantar ferro, todo o exército confessa-se com fé viva, e retira tudo quanto podia ser ocasião de pecado; a blasfêmia é proibida sob pena de morte; o núncio apostólico abençoa solenemente a esquadra, e aqueles milhares de bravos, certos da proteção do Céu, fazem-se de vela para o Oriente. Pela sua parte, o Sumo Pontífice, qual outro Moisés, não cessa de levantar as mãos para o Céu e dirigir a Deus fervorosas orações, para atrair suas bênçãos sobre as armas dos Cristãos.

Os Turcos se precipitam com fúria sobre a frota cristã e parecem, a princípio, ganhar algumas vantagens; mas ao canto do Exurgat Deus, salmo das santas batalhas, os soldados da cruz afrontam a morte e zombam dela: combatem como denodados heróis, e Aquele que tem a vitória na mão, não tarda a declarar-se pelos Cristãos. Depois de doze horas de um combate encarniçado, os infiéis muçulmanos são completamente derrotados; retiram-se e perdem mais de trinta mil homens, duzentos navios e quase todo o material de sua esquadra.

Os cristãos vencedores colhem um despojo imenso: 372 peças de artilharia, e o que vale infinitamente mais, põem em liberdade 25.000 escravos cristãos, encerrados nos porões dos navios infiéis (7 de outubro de 1571).

Em Roma, o Papa S. Pio V teve a revelação da vitória no momento em que alcançava. Estava na sala do Consistório, com os Cardeais, quando, de repente, levanta-se, abre a janela, olha para o céu e diz: “Deixemos os negócios; vamos dar graças a Deus pela vitória que acaba de conceder ao exército cristão”. Este fato tão extraordinário foi atestado da maneira mais autêntica, e é relatado como incontestável no processo da canonização do santo Papa.

Para conservar a memória dessa vitória, S. Pio V inseriu, nas ladainhas da Santíssima Virgem, estas palavras:Auxilium Christianorum, ora pro nobis: Auxílio dos Cristãos, orai por nós. Instituiu a festa de N. S. da Vitória, que veio a ser a festa de N. S. do Rosário.


FONTE: Maria ensinada à mocidade ou Explicação do pequeno catecismo de Nossa Senhora. São Paulo: Livraria Francisco Alves  & Cª, 1915. p.292-304.