Neste texto, D. Villar fala sobre a anunciação e a divina maternidade de Nossa Senhora. Quão poderoso foi o seu sim, que “tira o próprio Deus do Seu Céu e da Sua eternidade, “para que, sem deixar de ser Deus, comece a ser homem.” Confira esta belíssima meditação!
1º. O «Fiat» Omnipotente
Porém este «faça-se» de escrava de Maria é também a expressão prática da sua omnipotência. Apenas pronunciado, o Espírito Santo, como disse o Anjo, a cobriu com a sua sombra protetora e levou a cabo a obra da Incarnação; naquele momento se efetuou aquilo que diz São João: «o Verbo se fez carne e começou a habitar entre nós».
A palavra de poder imenso! Pronuncia-a a omnipotência de Deus e do nada brotaram os mundos. Di-la Maria no abismo da sua humildade e ainda opera mais maravilhas que o Criador. Aquele «fiat» tira do nada todas as coisas. Este, tira o próprio Deus do seu Céu…, da sua eternidade…, para que, sem deixar de ser Deus, comece a ser homem.
Contempla a Santíssima Virgem e vê como o Espírito Santo organiza no imaculado sangue de Maria o Corpo de Jesus Cristo, para que esse Corpo e esse Sangue que recebe da Virgem Santíssima seja a matéria do sacrifício que para remir o mundo oferecerá mais tarde na Cruz. Adora este augusto mistério, e por ele dá graças a Jesus e a Maria.
2º. A divina maternidade
Maria neste instante fica convertida em verdadeira Mãe de Deus. Dignidade altíssima e maravilhosa. É infinita porque infinita é a dignidade de seu Filho. É um parentesco real e físico com o Filho de Deus.
Desde este momento, Deus está em Maria, não como imagem, não com a sua graça, senão com a sua própria pessoa divina; há entre Deus e Maria uma verdadeira identidade, enquanto que a carne e sangue de seu Filho são carne e sangue de Maria.
É a missão mais íntima e sublime que pode dar-se entre uma criatura e Deus. Por ela, Maria, ao ser Mãe de Deus, adquire a mais alta autoridade…, a autoridade de mandar em seu Filho…, adquire o mais elevado privilégio…, o de um direito especial ao amor do seu Filho… e a receber d’Ele todos os bens de graça e de glória com o poder de comunicá-los aos outros.
Nesta maternidade divina funda-se a verdade de que Ela é nossa Medianeira – e uma medianeira omnipotente – porque participa por graça da omnipotência que Deus tem por natureza e, além disso, é, por esta maternidade, a dispenseira de todas as graças, já que se vê claramente que Deus não quer comunicar-se aos homens diretamente, senão por meio de Maria, como o fez na Incarnação. Magnífica, sublime e divina é esta maternidade.
Nunca chegaremos a sondar toda a sua profundeza e altíssima magnificência. Deus pode criar outros mundos, outros Anjos, outros seres infinitamente mais perfeitos, porém não pode fazer uma mãe superior à Mãe de Deus.
3º. A Vida da Mãe de Deus
Era uma vida, nesse tempo, de íntima união com Deus segundo o corpo e segundo a alma. A vida íntima de Mãe e Filho. Uma só vida, um mesmo palpitar de corações.
Que recolhimento tão intenso e tão profundo para reconcentrar toda a sua vida no seu Filho!
Tudo o que fazia era com Ele e por Ele: via com os olhos do seu Filho; amava com o seu coração; os seus gostos eram os dele. Daí uma vida dos mais íntimos, puros e perfeitos sentimentos de amor e gozo para com Deus a quem tinha em seu seio. Se o Céu consiste na posse de Deus, Maria já gozava então dessa posse ainda mais íntima…, ainda mais perfeita que a de todos os Anjos e bem-aventurados na glória. Era pois, uma vida toda divina, toda gloriosa, toda santificadora pela união com o seu Filho.
4º. A Mãe de Deus é minha Mãe
Tinha igualmente união comigo. Deus quis que a sua Mãe fosse também minha Mãe e amou-me já desde então como tal. Ela desejava ardentemente que o seu Filho já nascesse e remisse o mundo pensando em mim. Ela já então queria o mesmo que agora, ter-me a mim como a verdadeiro filho – como ao seu Jesus – que eu me unisse com Ela, como estava Jesus, para que eu como Jesus… participasse daquela vida.
Que dita a minha ter uma Mãe que mereceu ser Mãe de Deus! Por Ela adquirimos um parentesco com Jesus – Jesus e eu somos irmãos. Pensa muito nisto e agradece estas maravilhas de amor à Mãe e ao Filho.
Imita a Maria nesta maternidade divina unindo-te intimamente como Ela se uniu a Jesus. Torna esta união prática, unindo-te antes com a Santíssima Virgem para viver completamente esta vida. Procura que a tua alma seja filha verdadeira, de palavra e de verdade, de tão grande Mãe.
D. Ildefonso Rodriguez VILLAR. Pontos de Meditação sobre a Vida de Nossa Senhora. Porto, (s. e.), 1946, p.123-116.