Nesta grande festa que a Igreja comemora hoje, Festa de São José, escrevi um texto trazendo o que alguns teólogos explicam da vida deste tão glorioso santo que o distingue dos demais homens e dos demais santos, e também trazendo-o como modelo de pai e chefe de família. Confira!
Hoje, com grande alegria, comemoramos a Festa do glorioso São José, pai nutrício de Nosso Senhor Jesus Cristo e esposo virginal de Maria Santíssima! O céu deve estar em festa e alegria extrema, pois São José não é um santo qualquer. Em grau de glória e santidade, ele apenas está abaixo de Jesus e Maria, estando acima de todos os anjos e outros santos que estão no céu.
São José foi um homem “comum”?
Podemos dizer, em partes, que São José foi um homem comum, pois ele viveu como nós, nas penúrias do dia a dia, ganhando o pão que sustentava a Sagrada Família com o suor do seu trabalho de carpinteiro. Porém, com relação à santidade e à missão recebida, São José não foi um homem comum. Isto porque ele foi predestinado por Deus para ser o pai nutrício de Jesus e o esposo virginal de Maria Santíssima. Pe. Marin diz que grandes e sérios teólogos acreditam que São José, da mesma forma que Jeremias e São João Batista, foi santificado dentro do ventre de sua mãe.[1] Isto quer dizer que o pecado original nele foi apagado da mesma forma como ocorreu com São João Batista, e assim, santificado no ventre materno, São José foi liberto do pecado original, o que lhe coloca em uma situação incomum em comparação com todos nós. De qualquer forma, como continua Pe. Marin, é certo que São José alcançou um grau sublime de santidade ao longo de sua vida, que é somente inferior ao de Jesus e de Maria.[2] E existem duas razões para isto: a primeira delas é que “Deus dá a cada um a graça para o que é eleito”[3]; a segunda é que “uma missão divina excepcional requer uma santidade proporcionada”[4]. Assim, Pe. Marin explica que:
Em virtude desses princípios, que são certíssimos em teologia, São José recebeu de Deus a graça necessária para ser digno esposo de Maria e digno pai virginal de Jesus. E como estes dois ofícios são os mais altos e sublimes que Deus jamais confiou a ninguém mais – depois, naturalmente, de Jesus e de Maria –, há que concluir que a santidade de José, ao menos no final de sua vida, se elevou por cima das de todos os anjos e santos do céu, sem exceção alguma. Nada tem de estranho se pensamos que conviveu intimamente durante trinta anos com Jesus e Maria na casinha de Nazaré, onde se praticaram as virtudes mais sublimes que os céus e a terra já contemplaram.[5]
Visto a excelsa dignidade à qual Deus predestinou São José, é um tanto ingênuo e falso afirmar que São José sonhava com uma vida “comum”, com esposa e filhos. Diz Pe. Marin que “o matrimônio de Maria Santíssima e São José teve uma característica toda excepcional e singularíssima, como excepcional e singularíssima era a finalidade pretendida por Deus com este matrimônio santíssimo: salvaguardar a virgindade de Maria com a virgindade de São José.”[6]
São José: Pureza e Virgindade amadas
O grau de santidade de São José unia-o a Deus de uma forma toda superior. Se os grandes santos sempre tiveram o cuidado de preservar sua pureza e sua virgindade, quanto mais não teria São José este cuidado, uma vez que Deus tinha-o designado para uma missão especialíssima, de guardar e proteger ao Menino-Deus e Sua Santíssima Virgem Mãe! Assim, Bossuet explica que:
Maria pertence a José e José pertence à divina Maria; com tanta verdade, que seu matrimônio é muito verdadeiro, posto que entregaram-se um ao outro. Mas de que sorte se entregaram? Pureza: eis aqui o seu triunfo! Se entregaram reciprocamente sua virgindade, e sobre esta virgindade se cedem um direito mútuo. Que direito? O de guardá-la um do outro. Sim, Maria tem o direito de guardar a virgindade de José, e José tem o direito de guardar a virgindade de Maria. Nem um nem outro podem dispor dela, e toda a fidelidade deste matrimônio consiste em guardar a virgindade. Eis aqui as promessas que os unem, eis aqui o tratado que os liga. São duas virgindades que se unem para conservar-se eternamente uma a outra com uma casta correspondência de desejos pudicos, e parece-me contemplar a dois astros que não entram em conjunção senão para que suas luzes se fundam. Tal é o ponto deste matrimônio, tanto mais firme quanto as promessas que se fizeram hão de ser mais invioláveis pelo mesmo que são mais santas.[7]
Eu fico muito indignada quando católicos se prestam a rebaixar a santidade e as virtudes heroicas de São José a um nível comum ao de todos nós, ainda mais com relação à sua santa virgindade e sua santa pureza, guardadas à chave-de-ouro! Deus não o teria designado e o feito esposo de Maria Santíssima se suas inclinações fossem exatamente iguais às de todos os demais homens. São José deveria ser o guardião da pureza da Santíssima Virgem, de sua santa imaculada Virgindade, e de Jesus Cristo, Filho de Deus. Achar que um homem “comum”, com vícios e pecados, daria “conta do recado” é um tanto absurdo e irracional. Deus escolheu São José dentre os melhores – as Sagradas Escrituras o designam de homem justo –; Deus santificou-o a um grau digno de estar ao lado da Virgem Puríssima e de Jesus Cristo como seu pai adotivo, fê-lo príncipe de todas as Suas possessões, de Seus tesouros mais caros: Jesus e Maria.
Brilham nele, sobretudo, as virtudes da vida oculta, em um grau proporcionado ao da graça santificante: a virgindade, a humildade, a pobreza, a paciência, a prudência, a fidelidade, que não pode ser quebrada por nenhum perigo; a simplicidade, a fé, esclarecida pelos dons do Espírito Santo; a confiança em Deus e a mais perfeita caridade. Guardou o depósito que lhe foi confiado com uma fidelidade proporcionada ao valor deste tesouro inestimável.[8]
São José: Chefe da Sagrada Família: Exemplo para nossas famílias
São José é o modelo de pai e chefe de família que todos os maridos devem imitar; a Sagrada Família é o modelo de família que todos nós devemos perseguir.
O lar de Nazaré era um lar pobre, sem luxo, mas um lar cheio de amor, de doçura e de doação recíproca; era um “pequeno céu”, literalmente. Uma das meditações do livrinho Mês de São José, traz o seguinte texto falando sobre como São José era afetuoso para com todos:
Como se haviam de amar todos na pequena casa de Nazaré! Meu Deus, que quadro encantador se apresenta a minhas vistas! Maria procurando tudo o que pode ser agradável a Jesus; Jesus como adivinhando tudo o que contentaria à Virgem Maria; São José fazendo tudo o que está em suas forças para que ninguém sofra! Ó delicioso interior, que nos seria tão fácil reproduzir entre nós! Que faremos da nossa faculdade de amar, se não a empregarmos em concorrer para a felicidade daqueles que nos cercam!?[9]
É uma pena que pouco meditemos no lar de Nazaré. Tantos lares hoje estão divididos, vivem em brigas constantes, esposos que não valorizam e não amam suas esposas, que não dão atenção aos seus filhos, que preferem o jogo de futebol, a cerveja com os amigos, parentes etc. a passarem suas melhores horas do dia com sua família [esposa e filhos]; esposas que não amam seus maridos, que procuram antes agradar-se a si próprias deixando sua família de lado por conta de vaidades, funções fora de casa desnecessárias etc.; filhos que não respeitam seus pais, que se rebelam, que não obedecem, que preferem a companhia de pessoas de fora da família à companhia do pai, da mãe e dos irmãos… Ó quanto desgosto dentro dos lares cristãos de hoje em dia!
O lar que devia ser a sede do amor e da doçura é muitas vezes a sede da aspereza e do aborrecimento que originam rixas e dissensões – tormento e cruz dos seus moradores. Um santo dizia que há muitos que na rua parecem anjos mas que em sua casa são demônios… E isto pode dizer-se também da vida de amizade… e até da vida comum religiosa… Não é uma verdade muito triste que não falta quem com o seu gênio mal contido… com o seu caráter pouco mortificado… se expressa às vezes com palavras, com gestos, com movimentos ou atos pouco edificantes e que servem para fazer sofrer os seus irmãos?… Como é bom e belo ver os irmãos unidos como se fossem uma só coisa!… Assim dizia o Salmista… Mas isto não se verificará se neles não reina a caridade e a doçura, que quando é verdadeira virtude procede da própria caridade…[10]
E então, olhamos para a Sagrada Família… que belo exemplo de harmonia e doçura doméstica, que tanto devemos perseguir e imitar! E imaginando como tudo seria dentro da casinha de Nazaré, parece que a vida de São José era fácil. Mas não, era muito sacrificante. Porém, Ele era fiel à graça, e assim devemos ser se quisermos fazer do nosso lar um pequenino céu, assim como era o lar da Sagrada Família.
Ele [São José] conhecia que lhe vinha do céu a inspiração, quando se tratava de causar uma alegria a Jesus, e, por mais que lhe custasse o que parecia do gosto do Divino Filho, fazia-o sempre… Não pensemos que a vida de São José tenha corrido sem abalo e sem sacrifício… Se Deus nos pedisse o que dele exigiu, compreenderíamos quão meritória foi sua fidelidade. Também nós sentimos muitas vezes uma voz que nos diz: “Jesus ficaria contente, se procedesses deste modo, se fizesses tal sacrifício…”[11]
Quantas vezes reclamamos pelos aborrecimentos do dia a dia, pelo defeito do nosso cônjuge, pelas manias dos nossos filhos; quantas vezes perdemos a paciência em situações em que deveríamos ter mantido a calma, já que nós também não somos fáceis! temos defeitos, pecados, e os que estão à nossa volta são obrigados a suportá-los também! Quantas vezes reclamamos dos pequenos serviços domésticos (no caso das donas de casa), da longa jornada de trabalho entediante (no caso dos maridos), e destruímos nosso dia, magoamos quem amamos, por falta de paciência, doçura e mansidão…
São José era um homem muito trabalhador. Carpintaria não é um trabalho fácil, é um trabalho braçal, minucioso, podendo ser muito entediante. Mas São José não trabalhava de mau grado, nem emburrado, como muitas vezes nós acabamos fazendo, ou por preguiça, ou por conta das contrariedades da vida. São José trabalhava com muito amor.
Sabia ele que seu trabalho era necessário a Jesus. Que felicidade poder dizer a cada instante do dia: “É para Jesus! É para Maria!” Nosso trabalho também servirá para Jesus, se o quisermos. Cada linha estudada ou escrita, cada obrigação, cada pequena ação material pode tornar-se, nas mãos do nosso anjo, a moeda espiritual que ganhará almas para o céu, como o trabalho de São José se convertia na moeda que comprava o pão para Jesus.[12]
São José é um exemplo para todos nós, de doçura, de mansidão, de dedicação à família, ao trabalho, de amor à pobreza, de santidade, de pureza, de guarda da virgindade. São José é, em especial, exemplo para todos os pais, já que o próprio Deus o escolheu como Seu pai nutrício!
Pai nutrício de Jesus! Admiro as comunicações dos anjos com o Menino Jesus; sua alegria quando cantaram sobre sua manjedoura: Glória a Deus nas alturas e paz aos homens de boa vontade; o respeito, o terníssimo amor com que o seguiam e o serviam. Mas como empalidece tudo isto quando considero, ó veneradíssimo e amabilíssimo Santo, que sois seu pai nutrício; o pai, não da Igreja somente, mas de um Deus; o chefe, não da criação, mas do Criador do mundo, que quis estar-vos sujeito; o guia, não das esferas celestes… mas, durante o desterro e em Nazaré, dAquele que tem por nome a Sabedoria infinita; o depositário dos dois tesouros mais preciosos do coração do Pai, sua imagem viva, sombra sublime de sua beleza, de seu amor, de sua doçura; o representante de sua paternidade e de sua autoridade eterna, o eco de seus mandatos! Oh, São José, protetor e pai de Jesus, da Igreja e de minha alma! Jamais quero separá-lo em meu amor e minha veneração daquela de quem Deus o fez esposo, nem de seu divino Filho, que é vosso também, uma vez que há nascido desta Virgem imaculada que é tesouro vosso; uma vez que é fruto dessa terra bendita sobre a qual tendes vós o direito de propriedade.[13]
Roguemos para que São José, assim como cuidou do Menino Jesus e da Virgem Santíssima, cuide também de cada um de nós, das nossas famílias, e, especialmente, do nosso país. Roguemos para que ele intervenha contra as leis iníquas que querem aprovar neste dia de hoje, leis que pretendem destruir as famílias, ensinar ideologias anticristãs nas escolas, perverter nossas crianças desde a mais tenra idade. Roguemos a São José, protetor das crianças e das virgens, que nos salve e nos proteja da fúria do demônio, que ronda nosso país em busca de perder as almas e de destruir a fé cristã.
São José, pai nutrício de Jesus, rogai por nós e pelo Brasil!
[1] MARIN, Antonio Royo. La Virgen Maria: Teologia y espiritualidade marianas. Madrid: Biblioteca de Autores Cristianos, 1968, p.434. Cf. Jer 1, 5; Lc 1, 44. Defendem esta opinião, entre outros muitos, Gersón, Isidoro de Isolano, Santo Afonso de Ligório, P. Jansens, P. Poiré, P. Tesnière, Mons. Sauvé, Petrone, Sinibaldi etc.
[2] MARIN, 1968, p.434
[3] Cf. II-II 184, 2. In MARIN, 1968, p.434, tradução nossa.
[4] Cf. GARRIGOU-LAGRANGE, La Madre del Salvador (Buenos Aires 1947) p.2ª c.7: La predestinación de San José y su eminente santidade, p.292. In MARIN, 1968, p.434, tradução nossa.
[5] MARIN, 1968, p.434, tradução nossa.
[6] MARIN, 1968, p.431, tradução nossa, grifo nosso.
[7] Cf. BOSSUET, primer panegírico de San José (Depositum custodi…); ed. Vivès, t.12 p.115. In MARIN, 1968, p.432, tradução nossa, grifo nosso.
[8] GARRIGOU-LAGRANGE, La Madre del Salvador (Buenos Aires 1947) p.2ª c.7: La predestinación de San José y su eminente santidade, p.301. In MARIN, 1968, p.435, tradução nossa.
[9] PEREIRA, Mons. Dr. José Basílio. Mês de São José. Niterói: Editora Permanência, [s.d.], p.10.
[10] VILLAR, Ildefonso Rodriguez. Pontos de Meditação sobre as Virtudes de Nossa Senhora. Tradução revista pelo Padre Manuel Versos Figueiredo, S. J. [s. e.]. Porto, 1946, p.202-203.
[11] PEREIRA, p.11-12.
[12] PEREIRA, p.13.
[13] Cf. CARLOS SAUVÉ, Jesús íntimo 2ª ed. (Barcelona 1926) p.28. In MARIN, 1968, p.430-431, tradução nossa.