Este texto é composto de perguntas e respostas sobre a doutrina do Sacramento da Penitência (ou Confissão), extraídas do Catecismo Maior de São Pio X. Neste artigo, São Pio X fala sobre a dor dos pecados. Confira!
705. Que é a dor dos pecados?
A dor dos pecados consiste num desgosto e numa detestação sincera da ofensa feita a Deus.
706. De quantas espécies é a dor?
A dor é de duas espécies: perfeita ou de contrição; imperfeita ou de atrição.
707. Que é a dor perfeita ou de contrição?
A dor perfeita é o desgosto de ter ofendido a Deus, porque Deus é infinitamente bom e digno, em Si mesmo, de ser amado sobre todas as coisas.
708. Por que se chama perfeita a dor de contrição?
Chama-se perfeita a dor de contrição por duas razões: 1ª. porque se refere exclusivamente à bondade de Deus, e não ao nosso proveito ou prejuízo; 2ª. porque nos faz alcançar imediatamente o perdão dos pecados, ficando-nos porém a obrigação de nos confessarmos.
709. Então a dor perfeita alcança-nos o perdão dos pecados independentemente da confissão?
A dor perfeita não nos alcança o perdão dos pecados independentemente da confissão, porque sempre inclui a vontade de se confessar.
710. Por que a dor perfeita, ou contrição, produz este efeito de nos conceder o estado de graça?
A dor perfeita, ou contrição, produz este efeito porque procede da Caridade, que não pode encontrar-se na alma juntamente com o pecado mortal.
711. Que é a dor imperfeita ou de atrição?
A dor imperfeita ou de atrição é aquela pela qual nos arrependemos de ter ofendido a Deus como a nosso supremo Juiz, isto é, por temos dos castigos que merecemos e nos esperam nesta ou na outra vida, ou pela própria fealdade do pecado.
712. Que condições deve ter a dor para ser boa?
A dor, para ser boa, deve ter quatro condições: deve ser interna, sobrenatural, suma e universal.
713. Que quer dizer: a dor deve ser interna?
Quer dizer que deve estar no coração e na vontade, e não só nas palavras.
714. Por que a dor deve ser interna?
A dor deve ser interna porque a vontade, que se afastou de Deus com o pecado, deve voltar para Deus, detestando o pecado cometido.
715. Que quer dizer: a dor deve ser sobrenatural?
Quer dizer que deve ser excitada em nós pela graça do Senhor, e que a devemos conceber levados por motivos que procedem da Fé.
716. Por que a dor deve ser sobrenatural?
A dor deve ser sobrenatural porque é sobrenatural o fim a que se dirige, isto é, o perdão de Deus, a aquisição da graça santificante e o direito à glória eterna.
717. Explicai melhor a diferença entre a dor sobrenatural e a natural.
Quem se arrepende por ter ofendido a Deus infinitamente bom e digno em Si mesmo de ser amado, por ter perdido o Paraíso e merecido o inferno, ou então pela malícia intrínseca do pecado, tem dor sobrenatural, porque estes são os motivos fornecidos pela Fé. Quem, ao contrário, se arrependesse só pela desonra ou castigo que lhe vem dos homens, ou por algum prejuízo puramente temporal, teria dor natural, porque se arrependeria só por motivos humanos.
718. Por que a dor deve ser suma?
A dor deve ser suma porque devemos considerar e odiar o pecado como o maior de todos os males, uma vez que é ofensa a Deus, o sumo Bem.
719. Para ter dor dos pecados, é porventura necessário chorar, como às vezes se chora pelas desgraças desta vida?
Não. Não é necessário que materialmente se chore pela dor dos pecados; mas basta que no íntimo do coração se deplore mais o ter ofendido a Deus do que qualquer outra desgraça.
720. Que quer dizer: a dor deve ser universal?
Quer dizer que se deve estender a todos os pecados mortais cometidos.
721. Por que a dor se deve estender a todos os pecados mortais cometidos?
Porque quem não se arrepende, ainda que seja de um só pecado mortal, continua sendo inimigo de Deus.
722. Que devemos fazer para ter dor dos nossos pecados?
Para ter dor dos nossos pecados, devemos pedi-la de todo o coração a Deus e excitá-la em nós com a consideração do grande mal que fizemos pecando.
723. Como fareis para vos excitardes a detestar os pecados?
Para me excitar a detestar os pecados, considerarei: 1º. o rigor da infinita justiça de Deus, e a deformidade do pecado que enfeou a minha alma, e me tornou merecedor das penas eternas do inferno; 2º. que perdi a graça, a amizade e a qualidade de filho de Deus, e a herança do Paraíso; 3º. que ofendi o meu Redentor, que morreu por mim, e que os meus pecados foram a causa da sua morte; 4º. que desprezei o meu Criador, o meu Deus; que Lhe voltei as costas, a Ele, o meu sumo Bem, digno de ser amado sobre todas as coisas, e servido fielmente.
724. Devemos ter grande empenho, quando nos vamos confessar, em ter verdadeira dor dos nossos pecados?
Sim, quando nos vamos confessar, devemos ter muito empenho em ter verdadeira dor dos nossos pecados, porque esta é a coisa mais importante de todas; e, se falta a dor, a confissão não é válida.
725. Quem se confessa só de pecados veniais deve sentir dor por todos?
Quem se confessa só de pecados veniais, para se confessar validamente, basta que se arrependa de algum deles; mas, para alcançar o perdão de todos, é necessário que se arrependa de todos os que reconhece ter cometido.
726. Quem se confessa só de pecados veniais, e não está arrependido nem sequer de um só, faz uma boa confissão?
Quem se confessa só de pecados veniais, e não está arrependido nem sequer de um só, faz uma confissão nula; neste caso, além disso, a confissão é sacrílega, se adverte que lhe falta a dor.
727. Que convém fazer para tornar mais segura a confissão só de pecados veniais?
Para tornar mais segura a confissão só de pecados veniais, é prudente acusar, com verdadeira dor, também algum pecado mais grave da vida passada, ainda que já confessado outras vezes.
728. É bom fazer com freqüência o ato de contrição?
É coisa boa e muito útil fazer, com freqüência, o ato de contrição, principalmente antes de se deitar, e quando se tem certeza ou dúvida de ter caído em pecado mortal, para recuperar mais depressa a graça de Deus; é útil, sobretudo, para alcançar mais facilmente de Deus a graça de fazer semelhante ato na ocasião de maior necessidade, isto é, em perigo de morte.
São Pio X. Terceiro Catecismo da Doutrina Cristã: Catecismo Maior de São Pio X. Edições Santo Tomás, 2005, p. 174-178.