Discurso do Papa Pio XII sobre os Problemas Modernos » A Mulher Moderna

O caráter da vida da mulher e a iniciação da cultura feminina eram inspirados, conforme a mais antiga tradição, pelo seu instinto natural que lhe atribuía como reino próprio de atividade a família, a não ser no caso de, por amor de Cristo, preferir a virgindade. Retirada da vida pública e à margem das profissões públicas, a jovem, como flor que cresce guardada e reservada, estava destinada por sua vocação a ser esposa e mãe. Junto da mãe aprendia os labores femininos, os cuidados e negócios da casa e tomava parte na vigilância dos irmãos e irmãs menores, desenvolvendo assim as forças, o engenho, e instruindo-se na arte e no governo do lar. […] Hoje, pelo contrário, a antiga figura feminina está em rápida transformação. Podeis ver que a mulher, e, sobretudo a jovem, sai de seu retiro e entra em quase todas as profissões, até aqui exclusivo campo de ação e vida do homem[1].

Digamos imediatamente que para Nós o problema feminino, tanto em seu complexo, como em cada um de seus múltiplos aspectos particulares, consiste todo na conservação e no incremento da dignidade que a mulher recebeu de Deus. […] Em que consiste, portanto esta dignidade que a mulher tem de Deus?

Em sua dignidade de filhos de Deus, o homem e a mulher são absolutamente iguais, como também a respeito do fim último da vida humana, que é a eterna união com Deus na felicidade do céu. É glória imortal da Igreja ter colocado em luz e em honra esta verdade e haver livrado a mulher de uma degradante servidão contrária à natureza. Mas o homem e a mulher não podem manter e aperfeiçoar esta sua igual dignidade, senão respeitando e colocando em ato as qualidades particulares, que a natureza lhes concedeu a um e a outra, qualidades físicas e espirituais indestrutíveis, das quais não é possível mudar a ordem sem que a própria natureza sempre novamente a restabeleça. […] Ainda mais. Os dois sexos, por sua própria qualidade particular, são ordenados um para o outro de tal modo que esta mútua coordenação exercita seu influxo em todas as múltiplas manifestações da vida humana social.

[…]

Em um como em outro estado [matrimônio ou vida religiosa] o dever da mulher aparece nitidamente traçado pelos lineamentos, pelas atitudes, pelas faculdades peculiares ao seu sexo. Colabora com o homem, mas no modo que lhe é próprio, segundo sua natural tendência. Ora, o ofício da mulher, sua maneira, sua inclinação inata, é a maternidade. Toda mulher é destinada a ser mãe; mãe no sentido físico da palavra, ou em um significado mais espiritual e elevado, mas não menos real.

Que desde muito tempo os acontecimentos públicos tenham-se desenvolvido de modo não favorável ao bem real da família e da mulher é um fato inegável. E para a mulher, voltam-se vários movimentos políticos, para ganhá-la à sua causa. Alguns sistemas totalitários colocam diante de seus olhos magníficas promessas; igualdade de direitos com os homens, proteção das gestantes e das parturientes, cozinha e outros serviços públicos comuns que libertarão do peso das obrigações domésticas. […] Permanece, porém, o ponto essencial da questão, a que já acenamos: a condição da mulher com isto se tornou melhor? A igualdade de direitos com o homem, trazendo o abandono da casa onde ela era Rainha, sujeita a mulher ao mesmo peso e tempo de trabalho. Desprestigiou-se a sua verdadeira dignidade e o sólido fundamento de todos seus direitos, quer dizer, perdeu-se de vista o fim desejado pelo Criador para o bem da sociedade humana e sobretudo pela família. Nas concessões feitas à mulher é fácil de perceber, mais que o respeito de sua dignidade e de sua missão, a mira de promover a potência econômica e militar do Estado totalitário, do qual tudo deve inexoravelmente ser subordinado.

[…]

Observemos a realidade das coisas.

Eis a mulher que, para aumentar o salário do marido, vai ela também trabalhar na fábrica, deixando durante sua ausência a casa no abandono, e esta, talvez já suja e pequena, torna-se também mais miserável pela falta de cuidado; os membros da família trabalham cada um separadamente, nos quatro ângulos da cidade e em horas diversas: quase nunca se encontram juntos, nem para o jantar, nem para o repouso depois das fadigas do dia, ainda menos para as orações em comum. Que permanece da vida de família? E quais atrativos que podem ser oferecidos aos filhos?

A estas penosas conseqüências da falta da mulher e da mãe no lar, ajunta-se outra ainda mais deplorável: ela diz respeito à educação, sobretudo da jovem e sua preparação para a vida real. Habituada a ver a mãe sempre fora de casa e a própria casa tão triste no seu abandono, ela será incapaz de encontrar aí qualquer fascínio, não provará o mínimo gosto pelas austeras ocupações domésticas, não saberá compreender a nobreza e a beleza das mesmas, nem desejará um dia dedicar-se a isso, como esposa e mãe.

Isto é real em todos os graus sociais, em todas as condições de vida. A filha da mulher mundana, que vê todo governo da casa deixado nas mãos de pessoas estranhas e a mãe ocupada em ocupações frívolas, em fúteis divertimentos, seguirá seu exemplo, quererá emancipar-se o quanto antes, e segundo uma bem triste expressão, “viver a sua vida”. Como poderia ela conceber o desejo de se tornar um dia uma verdadeira “domina”, isto é, uma senhora da casa em uma família feliz, próspera e digna? Quanto às classes trabalhadoras, obrigadas a ganhar o pão cotidiano, a mulher, se bem refletisse, compreenderia talvez como não poucas vezes o suplemento de ganho, que ela obtém trabalhando fora de casa, é facilmente devorado pelas despesas ou também pelos desperdícios ruinosos para a economia familiar. A filha, que vai também ela trabalhar em uma fábrica, em uma empresa ou em um escritório, perturbada pelo mundo agitado em meio ao qual vive, cegada pelo ouropel do falso luxo, desejosa de tristes prazeres, que distraem mas não saciam nem repousam, naquelas salas de “revistas” ou de danças, que pululam em todo lugar, muitas vezes com intentos de propaganda de parte e corrompem a juventude, tornando-se “mulher de classe”, desprezadora das velhas normas “oitocentescas” de vida, como poderia ela não encontrar a modesta moradia doméstica inóspita e mais tetra daquilo que na realidade é? Para torná-la agradável, para desejar estabelecer um dia a dela própria, deveria saber compensar a impressão natural com a seriedade da vida intelectual e moral, com o vigor da educação religiosa e do ideal sobrenatural. Mas qual formação religiosa recebeu ela em tais condições?

E não é tudo. Quando, com o transcorrer dos anos, sua mãe, envelhecida pelo tempo, enfraquecida e desgastada pelas fadigas superiores às suas forças, pelas lágrimas, pelas angústias, a verá voltar à casa à tarde, em horas talvez bem avançadas, longe de ter nela um auxílio, um sustentáculo, deverá ela mesma cumprir junto da filha incapaz e não habituada às obras femininas e domésticas, todas as obrigações de uma serva. Nem mais feliz será a sorte do pai, quando a idade avançada, as doenças, os achaques, as desocupações obrigarão a depender para seu mesquinho sustento da boa ou má vontade dos filhos. A augusta, a santa autoridade do pai e da mãe, ei-las descoroadas de sua majestade. Diante das teorias e dos métodos que, por diferentes caminhos, arrancam a mulher de sua missão, e com a lisonja de uma emancipação desenfreada, ou na realidade de uma miséria sem esperança, nós ouvimos o grito de apreensão que invoca, o mais possível, sua presença ativa no lar. […] A sorte da família, a sorte da convivência humana, estão em jogo; estão em vossas mãos, “tua res agitur!”. Toda mulher, portanto, sem exceção, tem o dever, o estrito dever de consciência, de não permanecer ausente, de entrar em ação (nas formas e nos modos condizentes às condições de cada qual), para conter toda a corrente que ameaça o lar, para combater as doutrinas que lhe corroem os fundamentos, para preparar, organizar e cumprir sua restauração.

[…] Ela tem de concorrer com o homem para o bem da civilização, na qual está em dignidade igual a ele. Cada um dos dois sexos tem o dever de tomar a parte que lhe cabe segundo sua natureza, seus caracteres, suas atitudes físicas, intelectuais e morais. Ambos os sexos tem o dever e o direito de cooperar para o bem total da sociedade, da pátria, mas está claro que, se o homem é por temperamento mais levado a tratar dos negócios externos, os negócios públicos, a mulher tem, geralmente falando, maior perspicácia, tato mais fino para conhecer e resolver os problemas delicados da vida doméstica e familiar, base de toda a vida social, o que não tolhe que algumas saibam realmente dar demonstração de grande perícia também no campo da atividade pública[2].

SS. Papa Pio XII


[1] Discurso à Juventude Feminina de Ação Católica, 24 de abril de 1943.
[2] Discurso às mulheres de Ação Católica, 21 de outubro de 1945.

Fonte: Frates in Unum.com

3 comments

  1. Olá Melissa eu gostei muito do seu blog eu e minha filhinha de 3 anos estamos usando saias e vestidos por amor a Jesus Cristo e a exemplo da Santíssima Virgem mas eu pergunto como que eu vou fazer quando minha filha for para a escola e para fazer as atividades de educaçao fisisca que roupa ela podera usar se ela quer usa r saia ou vestido direto?

    1. Olá, Silvana! Salve Maria!

      Fico muito feliz que tenha gostado do meu blog! E me alegro muito com a notícia de que você e sua filhinha estão usando saias e vestidos por amor a Nosso Senhor e a exemplo da Santíssima Virgem! Louvado seja Deus! o/

      É sabido que os pais têm o dever de cuidar da modéstia dos filhos, e, com relação a isso, o Cardeal Sbaretti, no item III do subtítulo “Exortação àqueles com autoridade” da Carta da Congregação do Concílio sobre a Moda Indecente Feminina, diz o seguinte: “Que os pais mantenham suas filhas longe do público de jogos e competições de ginástica, mas se as suas filhas são obrigadas a frequentar essas exposições, deixá-los ver que elas estejam totalmente e modestamente vestidas. Que eles nunca permitam que suas filhas usem trajes indecentes.”

      Com relação à escola, realmente a questão do uniforme para quem vive a modéstia cristã é um dilema, pois muitos colégios não possuem mais a opção de saias para uniforme feminino. Então, respondendo à sua questão, com base no que o Cardeal Sbaretti disse, eu sugiro que você converse com a direção da escola e pergunte se seria possível sua filha usar saias (desde que fosse um modelo modesto) como uniforme. Caso fosse possível, sua filha poderia usar uma bermuda por baixo da saia nas aulas de educação física. Porém, caso a direção não permita o uso de saias, aí eu aconselho você a procurar um sábio e prudente sacerdote para lhe orientar.

      Acredito que todas as mães que velam pela pureza, inocência e modéstia de seus filhos passam por esse dilema. Seria muito bom se você pudesse conversar sobre isso com um sacerdote santo e piedoso. Ele poderia lhe aconselhar melhor quando a época escolar da sua filha chegasse. O melhor mesmo seria se tivéssemos a opção de educarmos nossos filhos em casa. Aí não precisaríamos nos preocupar com a imodéstia dos uniformes escolares!!

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