Saiba mais sobre a Imaculada Conceição de acordo com o livro “Explicação do Pequeno Catecismo de Nossa Senhora”, por meio de perguntas e respostas.
Que entendeis dizendo que Maria foi concebida sem pecado, ou, por outro modo, que vem a ser a sua conceição imaculada?
Entendo que, por um privilégio único, Maria foi concebida isenta da mácula do pecado original, da qual nascemos todos culpados, e que, desde o primeiro instante de sua existência, foi enriquecida com os tesouros das graça e adornada de todos os dons do Espírito Santo.
A conceição de Maria difere da dos outros homens sobretudo em dois pontos:
1) Foi a consequência de uma graça milagrosa concedida a seus piedosos pais, já velhos e naturalmente fora do período de terem filhos;
2) Foi perfeitamente pura e santa; por uma disposição especial da Providência e em vista do papel sublime que Maria devia desempenhar, esta santa Virgem foi isenta da mancha do pecado original.
Por que se chama a imaculada conceição de Maria um privilégio “único”?
Porque, entre todos os filhos de Adão, Maria foi a única que o recebeu.
Por causa da desobediência de Adão e Eva, todos os homens são concebidos e nascem com a mancha original. A fé nos ensina que só a bem-aventurada Virgem Maria foi preservada deste pecado e concebida numa santidade perfeita.
Esta preservação, devida à graça onipotente de Cristo, é um milagre, sem dúvida; mas este milagre nada tem de mais admirável que os outros prodígios que nos maravilham na vida da santíssima Virgem.
Nela vemos, diz Bossuet, um parto sem dor, uma carne sem fragilidade, sentidos sem rebelião, uma vida sem mácula, uma morte sem agonia; seu esposo não é senão seu protetor; o seu casamento, o véu sagrado que protege sua virgindade; seu Filho amado, uma flor que brotou da sua integridade.
Assim sendo, que maravilha que uma criatura tão privilegiada tenha sido também preservada da corrupção original!
Em que grau Maria recebeu a graça na sua bem-aventurada conceição?
Aos outros homens, responde Sofrônio, patriarca de Jerusalém, a graça foi dada com maior ou menor grau; mas, em Maria, foi difundida sem limites.
“Se o Espírito Santo, acrescenta São Pedro Damião, se deu a nós, foi parcialmente; toda a plenitude da graça foi dada a Maria”. É por isso que os teólogos ousam afirmar, com São Ligório, que a graça concedida a Maria, no momento de sua conceição, sobrepuja tudo o que foi e será jamais concedido a todos os homens e a todos os anjos, pois que Deus amava a Maria, naquele instante, mais que a todos os eleitos juntos.
Que comparações podem tornar esta verdade evidente?
Pode-se dizer, com São Boaventura, que Maria é a reunião de todas as graças, como o Oceano é o reservatório de todas as águas do globo.
Do mesmo modo que o sol possui, ao menos em relação a nós, mais luz, por si só, do que todas as estrelas juntas, assim também a Santíssima Virgem, desde o primeiro instante de sua existência, excedeu em graça e em santidade a todos os bem-aventurados habitantes do céu.
A que grau de santidade uma graça tão abundante elevou desde então a Maria?
A um grau incompreensível para uma inteligência humana, pois que tal graça foi proporcionada à dignidade de Mãe de Deus a que Maria estava destinada, a qual é, de certo modo, infinita.
Maria nos faz participar da superabundância das graças que recebeu?
Sim, faz-nos participantes delas numa grande proporção; e dela, como de seu divino Filho Jesus, podemos quase dizer: “Temos recebido tudo de sua plenitude.” (Jo 1, 16).
Maria se fez tudo para todos, para os sábios e para os ignorantes, pois a todos sua caridade dá benefícios. Para todos ela abre o seio de sua misericórdia, a fim de que todos recebam de sua plenitude: o cativo, redenção; o enfermo, saúde; o coração oprimido, consolação; o pecador, perdão; o justo, graça; o anjo, alegria; a Santíssima Trindade, glória; a pessoa do Filho, a substância da carne humana, de sorte que sua ação benfazeja a todos se faz sentir.
Maria aproveitou-se do tesouro de graça que recebeu com a existência?
Sim, Maria progrediu todos os dias e em todos os momentos de sua vida em graça e em virtude, por seus atos perfeitíssimos, pelo favores com que o Senhor se comprazia em cumulá-la e aos quais ela correspondia com todas as forças de sua alma.
Que vantagem recolheu Maria da sua perfeita e constante correspondência à graça?
Mereceu receber efusões de graças cada vez mais abundantes e crescer sem cessar em santidade e em merecimentos na presença de Deus.
Pode-se fazer uma ideia desse acréscimo contínuo da graça em Maria?
Não, pois que excede todas as nossas concepções; nenhuma língua humana nem angélica pode exprimir esse acréscimo que o sono mesmo não interrompia.
Que é que valeu a Maria ser preservada da mancha original?
Sua qualidade de Mãe de Deus.
Efetivamente, de toda conveniência era que Maria, chamada à honra da maternidade divina, fosse sempre pura e imaculada. “A carne de Jesus sendo a carne de Maria”, segundo a expressão de Santo Agostinho, como admitir que o Salvador escolhesse, para formar seu corpo adorável, uma carne que tivesse sido manchada com as nódoas do pecado?
Quando Deus mandou construir o tabernáculo e, mais tarde, o templo de Salomão, deu as prescrições mais minuciosas para que tudo se fizesse numa ordem perfeita, para que a beleza e a riqueza das partes correspondessem à perfeição do conjunto; podia então permitir que Maria, destinada a ser o tabernáculo da nova aliança e o templo vivo da Divindade, fosse manchada pela mácula do pecado?!… Não, o Altíssimo, antes de escolher para si uma morada sobre a terra, começou, como diz o Salmista, por santificar seu tabernáculo. Maria será essa esposa bem-amada, da qual está escrito no livro dos Cânticos (Cant. IV, 7): “És infinitamente bela, e em ti não há macula alguma”.
Além disto, os teólogos ensinam-nos que nunca criatura alguma recebeu um dom qualquer sem que a Santíssima Virgem o tivesse recebido de antemão; donde se deduz, diz Santo Anselmo, que Deus, conservando puros milhões de anjos no meio da ruína de tantos outros, não podia deixar de preservar da queda comum a Mãe de seu Filho e a rainha dos anjos. Como crer, enfim, que Maria, a nova Eva; Maria, proclamada pelo Espírito Santo “bendita entre todas as mulheres”, fosse menos favorecida que nossa primeira mãe, criada na justiça e na inocência?
A crença na imaculada conceição de Maria não se apoia em outras provas?
Sim, esta crença, justificada aos olhos da razão, como acabamos de ver, é firmada ainda pela Escritura Sagrada e pela Tradição, dupla fonte das verdades de nossa santa fé.
Mostrai como é firmada pela Escritura Sagrada.
Todos os intérpretes, baseando-se sobre a autoridade da Igreja, reconhecem Maria na mulher anunciada a nossos primeiros pais como devendo fazer à serpente sedutora uma guerra irreconciliável e esmagar-lhe a cabeça. Mas, onde estaria a vitória de Maria se, pelo pecado original, tivesse sido, mesmo por um só instante, escrava do demônio?
O Antigo Testamento nos apresenta ainda muitas figuras do glorioso privilégio concedido a Maria, especialmente:
1º A arca de Noé, que não ficou submergida nas ondas impuras do dilúvio, mas salvou-se do naufrágio do mundo.
2º O lírio crescido no meio dos espinhos, de que se fala no livro dos Cânticos.
3º O velo de Gedeão, que fica seco enquanto a terra ao redor ficou inteiramente coberta de orvalho.
4º A piedosa rainha Ester, que é a única isenta da lei de morte, e pôde apresentar-se diante de seu real esposo e advogar a causa de seu povo.
Mostrai que a crença na imaculada conceição de Maria estriba-se na Tradição.
É constante que, em todos os séculos, desde a origem do Cristianismo, houve escritores que falaram da imaculada conceição de Maria. Os Santos Padres que não exprimiram diretamente este privilégio, supuseram-no claramente. Enfim, a Igreja Romana, “mãe e mestra de todas as Igrejas”, considerou sempre como incontestável a doutrina da conceição imaculada da Santíssima Virgem. As orações públicas e particulares, desde muito tempo em uso na Igreja, supõem essa doutrina, que foi proclamada e definida pela autoridade infalível do Papa, correspondendo ao desejo de todo o Episcopado católico.
Em que ocasião o Episcopado católico exprimiu seu desejo de ver definida dogmaticamente a imaculada conceição de Maria?
Por ocasião da encíclica pontifícia de 2 de fevereiro de 1849.
Por esta encíclica, feita em Gaeta, onde estava foragido para fugir das violências da revolução, o papa Pio IX, inculcou aos Bispos que mandassem fazer orações para implorar os socorros do céu sobre o Chefe da Igreja, e perguntou-lhes qual era o seu parecer e o de seus diocesanos acerca da definição dogmática da imaculada conceição de Maria.
543 Cardeais, Arcebispos e Bispos responderam. Todos esses veneráveis prelados foram unânimes em afirmarem que a crença na imaculada conceição existia em suas dioceses; quase todos solicitaram a definição pura e simples do dogma.
É uma verdade de fé católica a imaculada conceição de Maria?
Sim, a conceição imaculada de Maria é uma verdade de fé católica (verdade definida pela Igreja como tendo sido revelada por Deus, e que somos obrigados a crer sob pena de naufragar na fé). No dia 8 de dezembro de 1854, Pio IX decidiu e proclamou, em presença de mais de 200 bispos, que Maria não foi manchada pela culpa original, como foram os demais filhos de Adão.
[…] Bula Ineffabilis:
“Por isso … pela autoridade de Nosso Senhor Jesus Cristo, dos bem-aventurados apóstolos Pedro e Paulo e pela nossa, declaramos, pronunciamos e definimos que a doutrina segundo a qual a bem-aventurada Virgem Maria foi, desde o primeiro instante da sua conceição, por uma graça e um privilégio especial de Deus todo-poderoso, em vista dos merecimentos de Jesus Cristo, salvador do gênero humano, preservada e isenta de qualquer mancha da culpa original, é revelada por Deus, e, por conseguinte, deve ser firme e constantemente acreditada por todos os fiéis.
“Por isso, se alguém tivesse a presunção (praza a Deus que tal nunca aconteça) de admitir uma crença contrária à nossa definição, saiba que naufragou na fé e se separou da Igreja.”
Como o mundo católico recebeu o decreto do Soberano Pontífice?
Aclamações de alegria explodiram em toda a parte: o triunfo de Maria Imaculada foi celebrado com um brilho e um entusiasmo verdadeiramente extraordinários. Quase todos os dias do ano que seguiu foram assinalados por festas em honra de Maria.
Proclamando que Maria foi concebida sem pecado, Pio IX criou uma verdade nova?
Não, com tal definição, Pio IX não criou verdade alguma nova; limitou-se apenas a declarar que a Imaculada Conceição de Maria, admitida até então como uma piedosa crença, estava realmente contida no depósito da revelação e devia ser crida, dora em diante, como artigo de fé católica.
Em que dia a Igreja celebra a festa da Imaculada Conceição de Maria?
Anualmente, no dia 8 de dezembro, a Igreja celebra, por uma festa especial, este gloriosíssimo privilégio de Maria.
A origem desta festa não é conhecida, de modo certo; sabe-se, porém, que se celebrava no Oriente desde o século VI e que, no meado do século XII, um decreto dos cônegos de Lião a introduziu na França, donde passou para a maior parte das Igrejas da Itália, Espanha e Alemanha. Uma bula do Papa Sixto IV, publicada em 1476, estendeu esta festa à Igreja universal.
FONTE: Explicação do Pequeno Catecismo de Nossa Senhora. São Paulo: Francisco Alves, 1915. p.48-55.