Grande é a utilidade que se aufere da assistência à Santa Missa, o que acaba de ser demonstrado.
Muitas vezes, porém, há impossibilidade para certas pessoas, ou mesmo inconveniência de ir à Igreja todos os dias. Vós que tendes filhos pequenos, ou que por obrigação ou caridade cuidais de um doente, ou que tendes um marido difícil que vos proíbe sair, não deveis inquietar-vos, ou, o que é pior, desobedecer.
Pois, ainda que a Santa Missa seja um santo tesouro e de valor infinito, apesar de tudo, é sempre ainda melhor obedecer e renunciar à própria vontade, pois a obediência é imensamente valiosa.
Que sucederia, no entanto, se fôsseis à Santa Missa para vos entregardes à tagarelice, à curiosidade, às distrações voluntárias, e voltásseis com as mãos vazias? Foi o que sucedeu a uma camponesa, que morava em uma aldeia um pouco afastada da Igreja.
Querendo alcançar uma graça importante, ela prometeu assistir à Santa Missa durante um ano. Com esta intenção, todas as vezes que ouvia repicar o sino anunciando a Santa Missa, em alguma Igreja dos arredores, largava imediatamente seu trabalho e punha-se a caminho sem atender sequer às inclemências do tempo. De volta à casa, para não perder a conta das Santas Missas assistidas, que tencionava completar exatamente conforme se impusera, depositava cada vez uma fava em uma caixa cuidadosamente guardada. Passou-se o ano, e ela, certa de ter bem cumprido a promessa e alcançado muitos méritos, foi abrir a caixa. Ora, de tantas favas que ajuntara, só encontrou uma. Surpreendida e consternada, invadiu-a um grande pesar, e dirigindo-se a DEUS, dizendo-lhe lacrimosa: Ó SENHOR, como é possível que, de tantas Santas Missas que participei, só uma se encontre de sobra? Nunca faltei, a despeito do esforço a fazer, do mau tempo, da chuva, do frio e do caminho ruim!
DEUS então inspirou-lhe a idéia de contar sua infelicidade a um piedoso sacerdote muito prudente.
Este lhe perguntou de que modo ia ela à igreja, e com que devoção assistia ao santo Sacrifício.
Então ela disse-lhe que, no caminho só falava de negócios ou de diversões e passava o tempo dos divinos Mistérios a tagarelar com um e outro, tendo o espírito ocupado exclusivamente com sua casa e seus campos. «Aí está», lhe disse o padre, «o motivo de nada restar dessas Missas. A tagarelice, a curiosidade, as distrações voluntárias vos roubaram todo o mérito. Satanás vo-lo roubou. Por isso vosso Anjo fez desaparecer as favas, para vos mostrar que as obras mal feitas, ficam perdidas. Dai graças a DEUS porque, pelo menos, uma das Santas Missas, foi bem assistida e vos trouxe frutos».
Fazei agora uma reflexão bem séria e dizei: Quem sabe, de tantas Santas Missas a que tenho assistido em minha vida, quantas foram agradáveis a DEUS? Que vos responde a consciência! Se vos parece que bem poucas dessas Santas Missas são dignas de mérito aos olhos de DEUS, remediai esta situação e emendai-vos sinceramente para o futuro.
Mas se, o que não queira DEUS, sois do número dessas infelizes, asseclas dos demônios, que vão à igreja ajudá-los a arrastar almas ao Inferno, ouvi uma história apavorante e tremei.
Conta-se que certa mulher, tendo caído em grande miséria, errava em extremo desespero num lugar solitário. Apareceu-lhe satanás e disse-lhe que se ela quisesse distrair as pessoas na igreja, por meio de conversinhas e falatório inútil e inconvenientes, ele a tornaria rica como nunca. A miserável mulher aceitou a proposta e pôs-se a executar o diabólico ofício, alcançando plenos resultados: agia e falava de tal maneira que ninguém perto dela podia assistir atentamente à Santa Missa, nem a outras cerimônias.
Não durou muito, porém, que não pesasse sobre ela a mão de DEUS.
Certa manhã, desencadeou-se terrível tempestade e um raio certeiro fulminou-a, reduzindo-a a cinzas.
Ó mulheres, aprendei à custa de outrem, e fugi das pessoas que por suas tagarelices e irreverências nas igrejas exercem o ofício de ministros de satanás, se não quereis incorrer também na cólera de DEUS.
SÃO LEONARDO DE PORTO-MAURÍCIO. As Excelências da Santa Missa. Conforme a edição romana de 1737 dedicada a S. S. o Papa Clemente XII, p. 67-70.