As Virtudes de Nossa Senhora: VIII – Sua Obediência

“A humildade própria de uma serva é ser sempre pronta a obedecer. Por sua obediência, reparou Maria o dano causado pela desobediência de Eva, […].” Veja o que mais Santo Afonso fala nesta meditação sobre a Obediência de Maria Santíssima.

1. A Santíssima Virgem amava a obediência

Quando da embaixada de S. Gabriel não quis tomar outro nome senão o de escrava. “Eis aqui a escrava do Senhor”. Com efeito, testemunha S. Tomás de Vilanova, essa fiel escrava do Senhor nunca o contrariou, nem por ações, nem por pensamentos. Obedeceu sempre e em tudo à divina vontade, completamente despida de toda vontade própria. Ela mesma declarou que Deus se tinha agradado de sua obediência. “Ele olhou a baixeza de sua serva”. A humildade própria de uma serva é ser sempre pronta a obedecer. Por sua obediência, reparou Maria o dano causado pela desobediência de Eva, afirma S. Irineu. “Como a desobediência de Eva causou a morte ao gênero humano, assim pela obediência foi a Virgem, para si e para a humanidade, a causa da salvação”.

2. A obediência de Maria foi muito mais perfeita que a de todos os santos

É óbvia a razão disso. Pois todos os homens sendo inclinados ao mal por causa do pecado original, sentem dificuldades na prática do bem. Mas tal não se deu com a Santíssima Virgem. Isenta da culpa original, nada tinha que a impedisse de obedecer a Deus, escreve S. Bernardino de Sena. Como uma roda segue facilmente o impulso que lhe é dado, movia-se também a Virgem a cada impulso, com prontidão. Viveu observando e executando fielmente o divino beneplácito, continua o mesmo Santo. Bem lhe ficam as palavras dos Cânticos: A minha alma se derreteu, assim que meu amado falou (5, 6). Na opinião de Ricardo, a alma da Virgem se liquefazia, semelhante a um metal derretido, estando disposta a tomar todas as formas que Deus lhe quisesse dar.

3. Maria mostra, com efeito, quanto era pronta na obediência

Para agradar a Deus, quis obedecer ao imperador romano, fazendo uma longa viagem de 30 milhas a Belém. Fê-la nos rigores do inverno, quando esperava dar à luz o seu filhinho. Sobre isso era tão falta de recursos, que se viu reduzida a ver nascer-lhe o filho numa estrebaria. Mostrou-se igualmente pronta ao receber o aviso de S. José, pondo-se imediatamente a caminho, na mesma noite, para a viagem ainda mais longa e penosa do Egito. Aqui pergunta Silveira por que razão a necessidade de fugir para o Egito foi revelada a S. José, e não à bem-aventurada Virgem, a quem a viagem devia custar ainda mais. Responde então: Foi para que ela desse modo pudesse exercer a obediência. Porém Maria demonstrou sobretudo sua heróica obediência à divina vontade, quando ofereceu o Filho à morte. Na grandeza de sua constância, dizem o Vulgato Ildefonso e S. Antonino, estaria disposta a crucificá-lo, se houvessem faltado os algozes.

4. À exclamação da mulher que o interrompia com as palavras: “Bem-aventurado o ventre que te trouxe e os peitos que te amamentaram”, respondeu o Salvador: Antes, bem-aventurados aqueles que ouvem a palavra de Deus e a põem em obra (Lc 11, 27-28)

S. Beda, o Venerável, assim comenta a passagem: Maria era mais bem-aventurada por sua obediência a Deus, do que por motivo de sua dignidade como Mãe do Senhor. Razão é essa pela qual muito lhe agradam por isso as almas amantes da obediência. Apareceu ela um dia a um religioso franciscano, chamado Acúrcio. Mas eis que da cela o chamam para confessar um enfermo. Deixou-a, portanto, o religioso, mas de volta a encontrou ainda. A Virgem o estava esperando e muito lhe louvou a obediência. Pelo contrário, repreendeu outro religioso que, ouvindo o sino chamar para o refeitório, se demorou a concluir certas devoções.

5. Também falou a Virgem a S. Brígida da segurança que há em obedecer ao diretor espiritual, e disse-lhe que a obediência, a quantos a praticam, leva-os ao paraíso

Donde, dizia S. Filipe Néri, que Deus não pede conta do que fizemos por obediência, porque tornou essa virtude uma obrigação para nós. “O que vos ouve, a mim ouve; o que vos despreza, a mim despreza” (Lc 10, 16). A S. Brígida disse também a Mãe de Deus que, pelo merecimento de sua obediência, havia ela obtido do Senhor a graça de alcançar o perdão a todos os pecadores, que arrependidos a ela recorressem.

Ó amável Rainha e Mãe, rogai a Jesus que nos conceda, pelos méritos de vossa obediência, a graça de seguir fielmente as ordens de Deus e as disposições de nossos diretores espirituais. Amém.


LIGÓRIO, Afonso Maria de. Glórias de Maria: com indicações de leituras e orações para dois meses marianos. Aparecida, SP: Editora Santuário, 1989, p. 433-436.

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