O amor de Cristo

“Assim como esteve três horas na cruz, se fosse necessário estar nela até o dia do juízo, ele teria amor para o fazer. Jesus Cristo amou muito mais do que sofreu.” Veja o que mais Santo Afonso fala nesta meditação sobre o amor de Cristo por nós.

Cena do Filme “A Paixão de Cristo”, de Mel Gibson. Foto: Reprodução.
Cena do Filme “A Paixão de Cristo”, de Mel Gibson. Foto: Reprodução.

São João de Ávila era tão entusiasmado por Jesus Cristo que em todas as suas pregações não deixava nunca de falar do amor de Cristo por nós. Escrevendo sobre o amor de nosso querido Redentor, expressa estes ardentes sentimentos, que por serem muito bonitos, resolvi colocar aqui:

Vós, Redentor, amastes o homem de tal modo que, quem considerar este amor, não pode deixar de vos amar. Vosso amor faz violência aos corações, como diz São Paulo: “O amor de Cristo nos constrange!” A origem do amor de Jesus Cristo para com os homens é sua caridade para com Deus. Ele mesmo o disse aos seus discípulos na Quinta-Feira Santa: “Para que o mundo saiba que amo o Pai: levantai-vos e vamos”.

― Mas, para onde?

― Morrer pelos homens, na cruz!

Inteligência alguma compreenderá o quanto arde este fogo no Coração de Jesus Cristo. Assim como lhe foi mandado sofrer uma morte, do mesmo modo, se lhe tivesse sido ordenado que sofresse mil mortes, ele teria amor bastante para sofrê-las todas. Foi-lhe imposto sofrer por todos os homens; mas se lhe fosse pedido fazê-lo pela salvação de um só, tê-lo-ia feito do mesmo modo que o fez por todos. Assim como esteve três horas na cruz, se fosse necessário estar nela até o dia do juízo, ele teria amor para o fazer. Jesus Cristo amou muito mais do que sofreu.

Ó Amor Divino, fostes maior do que exteriormente vos mostrastes. Mostrastes-vos grande exteriormente, porque tantas chagas e feridas nos falam de um grande amor. Mas não dizem toda sua grandeza. Interiormente fostes maior do que exteriormente vos manifestastes: vossas dores físicas foram, apenas, uma faísca que saiu daquela grande fornalha de imenso amor.

O maior sinal de amor é dar a vida pelos amigos. Contudo, não foi um sinal que bastasse a Jesus Cristo para exprimir seu amor por nós.

Esse amor, quando se dá a conhecer, faz as pessoas boas saírem de si e ficarem estarrecidas. Por isso as pessoas sentem afervorar-se o coração, desejam o martírio, alegram-se no sofrimento, têm alívio nos grandes sofrimentos. Passeiam nas brasas como se fossem rosas, desejam os tormentos, regozijam-se com o que o mundo teme, abraçam o que o mundo detesta. Para a pessoa unida a Cristo na cruz ― diz Santo Ambrósio ― nenhuma coisa é mais consoladora e gloriosa do que trazer consigo os sinais de Jesus Crucificado.


Santo Afonso Maria de Ligório. A prática do amor a Jesus Cristo. 7a. Edição. Aparecida, SP: Editora Santuário, 1996, p. 19-20.