O amor vence tudo

“Assim como a morte nos desprende de todos os bens terrestres, das riquezas, das dignidades, dos parentes e amigos e de todos os prazeres do mundo; assim o amor de Deus, quando reina num coração, desprende-o do afeto a todos os bens caducos.” Veja o que mais Santo Afonso diz nesta meditação.

"Ángeles adorando el Corazón de Jesús" - Vicente López Portaña (1795).
“Ángeles adorando el Corazón de Jesús” – Vicente López Portaña (1795).

Fortis est ut mors dilectio ― «O amor é forte como a morte» (Cant. 8, 6)

Sumário. Assim como a morte nos desprende de todos os bens terrestres, das riquezas, das dignidades, dos parentes e amigos e de todos os prazeres do mundo; assim o amor de Deus, quando reina num coração, desprende-o do afeto a todos os bens caducos. Queremos, pois, saber se amamos a Deus, e se somos inteiramente dEle? Examinemos se estamos desapegados de todas as coisas terrestres. Vejamos sobretudo se já estamos desapegados de nós mesmos, pela morte do maldito amor próprio, que quer intrometer-se mesmo nas ações mais santas.

I. Assim como a morte nos desprende de todos os bens terrestres, das riquezas, das dignidades, dos parentes e amigos e de todos os prazeres mundanos: assim o amor de Deus, quando reina num coração, desprende-o do afeto a todos estes bens terrestres. Por isso vemos os Santos desfazerem-se de tudo quanto o mundo lhes oferecia, renunciarem às suas posses, às mais altas dignidades, e retirarem-se para os desertos ou claustros, para pensarem somente em amar o seu Deus. ― A alma não pode deixar de amar, ou seu Criador, ou as criaturas. Desfaça-se uma alma de todo o afeto terrestre, e achá-la-eis cheia do amor divino. Queremos saber se pertencemos inteiramente a Deus? Examinemo-nos, se estamos desapegados de todas as coisas da terra.

Queixam-se alguns de que em todas as suas devoções, orações, comunhões, visitas ao Santíssimo Sacramento não acham Deus. Responde-lhes Santa Teresa: Desprende o coração das criaturas, e então busca Deus e achá-Lo-ás. Não acharás sempre doçuras espirituais, mas o Senhor te fará gozar aquela paz interior que sobrepuja todas as delícias sensitivas. Que delícia maior pode experimentar uma alma abrasada no amor divino, do que em dizer: Deus meus et omnia ― «Meu Deus e meu tudo»?

Fortis ut mors dilectio ― «O amor é forte como a morte». Enquanto virmos um moribundo interessado por alguma coisa terrestre, teremos a prova mais certa de que não está ainda morto, visto que a morte nos tira tudo. Quem quiser ser todo de Deus, deve deixar tudo: a reserva feita de qualquer coisa prova que o amor de Deus não é perfeito, mas fraco. ― O amor divino, diz o P. Segneri Junior, é um amável ladrão que nos tira todas as coisas terrestres. A outro servo de Deus, que tinha distribuído todos os seus bens entre os pobres, perguntou-se o que o reduzira a tal estado de pobreza. Tirou da algiberia o livro dos Evangelhos e disse: Eis aí quem me despojou de tudo. Em uma palavra, Jesus Cristo quer possuir o nosso coração todo inteiro e não sofre competidores.

II. Diz São Francisco de Sales que o puro amor divino consome tudo quanto não é Deus. Portanto, quando nasce em nosso coração qualquer afeto a alguma coisa que não seja Deus nem por Deus, preciso é arrancá-lo logo, dizendo: Vai-te, pois para ti não há aqui lugar. É nisto que consiste a renúncia completa, que o Salvador nos recomenda tão instantemente, se quisermos ser dEle sem reserva; digo renúncia completa, isso é de qualquer coisa, e especialmente de parentes e amigos. Quantos, para agradar aos homens, deixam de fazer-se santos!

Mas sobretudo devemos renunciar a nós mesmos, triunfando do amor próprio. Maldito amor próprio que quer intrometer-se em tudo, até nas obras mais santas, deslumbrando-nos com a própria glória ou a própria satisfação. Quantos pregadores e escritores perdem assim todo o merecimento das suas fadigas! Muitas vezes mesmo em nossas meditações ou leituras espirituais ou mesmo em nossas santas comunhões se mistura alguma intenção menos pura, quer de sermos vistos, quer de experimentarmos as doçuras espirituais.

Devemo-nos portanto esforçar por vencer este inimigo que nos faz perder o fruto das nossas mais belas obras. Devemo-nos privar, quanto possível, daquilo que mais nos agrada: privar-nos de tal ou qual divertimento, exatamente porque nos diverte; obsequiar uma pessoa ingrata, exatamente porque nos é ingrata; tomar uma medicina amargosa, exatamente porque é amargosa. O amor próprio faz com que nenhuma coisa se nos afigure boa em que ele não acha a sua satisfação. Mas quem quiser ser todo de Deus, quando se trata de coisas do seu agrado, faça-se violência e diga: Perca-se tudo, contanto que se dê gosto a Deus.

Pelo mais, não há no mundo pessoa mais contente, do que aquela que despreza todos os bens do mundo. Quem mais se priva de semelhantes bens, mais rico se torna de graças divinas. É assim que o Senhor soe galardoar aos que O amam fielmente. ― Ó meu Jesus, Vós conheceis a minha fraqueza: prometestes socorrer a quem confia em Vós. Senhor, amo-Vos, espero em Vós, dai-me força e fazei-me todo vosso. Em vós também confio, ó minha doce Advogada, Maria. (II 268.)


Santo Afonso Maria de Ligório. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo Primeiro: Desde o primeiro Domingo do Advento até Semana Santa inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 156-158.

2 comments

  1. Melissa hoje encontrei este blog atravéz de um outro blog e vejo que vou crescer mais espiritualmente, que e fazer a vontade de Deus,
    sobre essa assunto – O AMOR É FAZ FORTE QUE A MORTE – é justamente para mim, e que percebir qtravez da vossa pessoa, tenho renunciados tantas coisas e ainda temos que aprendermos a renuncia a nós mesmo. temos que sermos livre entregamos a Cristo, ou seja se soubessem como é maravilha de estarmos bem próximos de Deus , não queriamos está mais aqui nesta terra , estamos aqui para uma missão.

  2. Olá, Mari, Salve Maria!

    Santo Afonso é um dos meu santos prediletos. As meditações dele atingem nossa alma de forma cortante como uma espada afiada!

    Fica com Deus!
    Obrigada pela visita! Volte sempre!
    Em Cristo, no amor de Maria Santíssima,
    Melissa Bergonso

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